Hoje são quadras, e não décimas, pela mão do poeta popular Raul Hélder Almas Coelho. Nasceu no Alandroal em 26 de Maio de 1929, e foi de profissão trabalhador rural. Muito interessantes e actuais as quadras que hoje se publicam, como referência ao governo dessa época. Qualquer uma delas dava um bom mote para décimas, mas a última está demais: «Isto anda tudo à deriva/ Pobre da minha barriga/ Deus te dê anos de vida/ Como palmos tem uma formiga.». Raul Coelho começou tarde a fazer poesia, contava então 50 anos, e já não se encontra entre nós.
Poet'anarquistaRaul Hélder Almas Coelho
Poeta Popular
QUADRAS
Estamos em péssimas condições
Só se ouvem gemidos e ais
O dinheiro não chega a nada
As coisas sobem cada vez mais.
Isto são golpes fatais
Uma mágoa que nos consome
Pois dentro de Portugal
Ainda existe muita fome.
E ninguém está conforme
Ainda existe muita grandeza
Há muitas que comem e bebem
E não olham a despesas.
Há muitas que se sentam à mesa
Fartam-se de reclamar
O ordenado que me dão
Não me chega p'ra começar.
Os portugueses têm razão
É um governo sem condições
Nós estamos a passar fome
Levam o dinheiro p'ra outras nações.
Farto-me de dar voltas ao sentido
Para a vida perceber
Até me zango mesmo comigo
E não a chego a entender.
Doa pá a quem doer
Fuja quem puder fugir
A vida que se atravessa
Não se pode admitir.
Lembro-me de andar a pedir
Descalço e sem ter botas
A bater a muitas portas
Para arranjar p'ra engolir.
Isto anda tudo à deriva
Pobre da minha barriga
Deus te dê anos de vida*
Como palmos tem uma formiga.
Raul Coelho
* Referência ao Governo
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