As décimas de hoje são da autoria do poeta Manuel António Pais Silva, natural do Monte das Serranas, freguesia de Ferreira de Capelins do concelho de Alandroal. Este agricultor de profissão, nascido a 25 de Janeiro de 1934, transitou mais tarde para a EPAC onde desempenhou funções. Manuel Silva começou a fazer poesia aos 25 anos.
Poet'anarquistaManuel António Pais Silva
Poeta Popular
Mote
Ó coveiro ponha um sinal
Na campa da minha mãezinha
Que a sepultura que é dela
Deve ser mais tarde a minha.
Glosas
1ª
Eu quero pagar o terrado
Pelo seu justo valor
Seja o preço qual for
Para não ser por outro ocupado.
Vamos lavrar um treslado*
À Sé, no Alandroal
Quero uma cruz de Cristal
Eu nessa terra sagrada,
Onde a minha mãe está sepultada
Ó coveiro ponha um sinal.
2ª
Que pode o senhor morrer
E ainda não estar nada feito
O outro não lhe encontrar jeito
Que essas coisas possam ser.
Vamos no livro escrever
Logo na primeira linha
Para saberem que eu tinha
A posse na sepultura,
Fica a cópia da escritura
Na campa da minha mãezinha.
3ª
Para quem no campo sagrado
Um dia quiser entrar
Não ande a perguntar
A quem pertence esse covado.
Lá esteja escrito, indicado
Que a sepultura é aquela
Com uma letra tão bela
Que toda a gente a saiba ler,
Para todos acabarem por crer
Que a sepultura que é dela.
4ª
Um dia em eu morrendo
Quero ir para lá também
Tenho o direito e ninguém
O contrário fica dizendo.
Coveiro eu o que pretendo
É que esteja bem limpinha
Para não criar uma ervinha
Tenho-a sempre bem mondada,
Porque essa triste morada
Deve ser mais tarde a minha.
Manuel Silva
*Contrato
1 comentário:
Continuo a gostar muito, desta forma de poesia. Bem genuína. Grata
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