O prémio «Vida Literária 2012» foi hoje atribuído a João Rui de Sousa, nascido em Lisboa a 12 de Outubro de 1928. O poeta, ensaísta e crítico literário teve a unanimidade da Associação Portuguesa de Escritores que o distinguiu com este importante prémio bienal. Recordo que já foram distinguidos com o mesmo prémio José Saramago, Miguel Torga, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny, Vitor Aguiar e Silva, entre outros autores. As minhas sinceras felicitações ao poeta João Rui de Sousa. Muitos Parabéns!
Poet'anarquistaJoão Rui de Sousa
Poeta Português
«PRÉMIO VIDA LITERÁRIA 2012»
O prémio de consagração, no valor de 25 mil euros, tem sido atribuído de dois em dois anos, a escritores de ficção, poesia e ensaio. Distinguiu, entre outros, José Saramago, Miguel Torga, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny e Vítor Aguiar e Silva.
João Rui de Sousa ficou "muito satisfeito e contente" por lhe terem atribuído este prémio e disse ao PÚBLICO que pensa que esta distinção vai alegrar também aqueles que sempre o incentivaram. "Este prémio também é para eles", afirmou.
O seu mais recente livro de poesia, “Quarteto Para as Próximas Chuvas", foi publicado em 2008 e João Rui de Sousa espera que não seja o último. "Assim pronto não tenho nenhum livro embora seja possível organizá-lo com alguma brevidade: tenho para aqui umas coisas inorgânicas", afirmou ao PÚBLICO. "Era uma boa oportunidade", concluiu.
Nascido em 1928, em Lisboa, João Rui de Sousa é poeta, ensaísta, crítico literário e investigador (integrou a equipa do Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea de 1982 a 1993). No ano passado, doou o seu espólio literário à Biblioteca Nacional de Portugal. O seu acervo é constituído por cartas de/a António Ramos Rosa, Eugénio Lisboa, João Bigotte Chorão, João Palma-Ferreira, Jorge de Sena, José Carlos Gonzalez, Luís Amaro, Luiz Pacheco, Natália Correia, Pedro da Silveira, e ainda correspondência com Egito Gonçalves, Eugénio de Andrade, Fernando Guimarães, Herberto Hélder, Liberto Cruz, Maria Alzira Seixo ou Matilde Rosa Araújo.
Formado em Agronomia e licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas, João Rui de Sousa estreou-se na revista “Cassiopeia” (1955), de que foi um dos fundadores, com António Ramos Rosa, José Terra, José Bento e António Carlos. Foi aí que publicou os poemas “A Morte da Paisagem” e “Poema Contíguo ao Ódio” e o ensaio “A Angústia e o Nosso Tempo”.
Das suas obras de poesia fazem parte “Circulação” (1960), “A Hipérbole na Cidade” (1960), “A Habitação dos Dias” (1962), “Meditação em Samos” (1970), “Corpo Terrestre” (1972) e, em 1983, reuniu os poemas publicados com inéditos em “O Fogo Repartido”. Na década seguinte editou “Enquanto a Noite, a Folhagem” (1991), “Palavra Azul e Quando” (1991), “Sonetos de Cogitação e Êxtase” (1994), “Obstinação do Corpo” (1996) e “Respirar pela Água” (1998).
Mais recentemente deu à estampa “Os Percursos, as Estações” (2000), “Obra Poética: 1960-2000” (2002), “Lavra e Pousio” (2005) e “Quarteto Para as Próximas Chuvas” (2008), que foi distinguido com o Prémio Nacional António Ramos Rosa e o Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes.
No ensaio, João Rui de Sousa publicou “Fernando Pessoa Empregado de Escritório” (1985; 2º ed. revista e aumentada, 2010), “Este Rio de Quatro Afluentes” (1988), “António Ramos Rosa ou o Diálogo com o Universo” (1988).
João Rui de Sousa é ainda editor literário da antologia de poemas de Adolfo Casais Monteiro (1973) e das “Poesias Completas” do mesmo autor (1993).
Fonte: Jornal O Público
DEPOIS DE AMANHÃ A PRIMAVERA!
A dadivosa mãe que em tudo existe
Para além do só remédio só palavra
Um cobertor de esperanças para o medo
Três girassóis lindíssimos desdobráveis
A boca na boca e as lágrimas
Mais azuis de brinquedos e de imensos
Lençóis de inventar os dias límpidos
A dadivosa mãe as tardes quentes
Florescer a noite de agasalhos
De corações em pé no destemor
Alimentar as órbitas fraternas
De iluminar raízes dança pura
Ó música sem tédio dos cabelos
Do teu olhar do cheiro dos reflexos
Desta razão solar! Em caule e rama
- Ó dadivosa mãe – tudo desperta!
João Rui de Sousa
POEMA CONTÍGUO AO ÓDIO
Que gelado sopro nos agita
Do lado de dentro das ruas?
Que rápida vertigem nos domina
Nesta agudíssima manhã?
Este vento que nos queima estas veias mais quentes
Estes longos minutos que sacodem o rosto
Estes ponteiros gigantes que nos marcam os séculos
Estes rios de sal que abrem sulcos nos ossos
Esta raiva que nos corta estas lâminas nos lábios
Estes vidros de silêncio que nos enchem a boca
Estes deuses que sorriem estas lágrimas mais puras
Estes grandes traços negros de trânsito impedido
Que gelado sopro nos agita
Do lado de dentro das ruas?
Que rápida vertigem nos domina
Nesta agudíssima manhã?
Este vento que nos queima estas veias mais quentes
Estes longos minutos que sacodem o rosto
Estes ponteiros gigantes que nos marcam os séculos
Estes rios de sal que abrem sulcos nos ossos
Esta raiva que nos corta estas lâminas nos lábios
Estes vidros de silêncio que nos enchem a boca
Estes deuses que sorriem estas lágrimas mais puras
Estes grandes traços negros de trânsito impedido
João Rui de Sousa
ROTEIRO
Meu jeito visionário — meu astrolábio.
Meu ser mirabolante — um alcatruz.
De variadas coisas fiz a minha esperança
E sempre em várias coisas vi a minha cruz.
Aos padrões que em vários pontos encontrei
Na rota íntima de vestes tropicais
Eu dei as mãos, serenas e intactas,
As minhas dores mais certas e reais.
Nos vários sítios que — abismos —
Toldaram minha voz por um olhar,
Eu evitei o perigo e os prejuízos
À voz feita de calma, meu cantar.
Aos rasgos que, de outrora, evocados
Foram sempre pelo seu valor,
Eu dei a minha tez de dúvida e de espanto,
O meu silêncio amargo, o meu calor,
E aos pontos cardeais que em volta, vacilantes,
Desalentavam já meu ser cativo,
Parei o gesto, roubei o pólo sul da esperança
Como lembrança para um dia altivo.
Meu jeito visionário — meu astrolábio.
Meu ser mirabolante — um alcatruz.
De variadas coisas fiz a minha esperança
E sempre em várias coisas vi a minha cruz.
Aos padrões que em vários pontos encontrei
Na rota íntima de vestes tropicais
Eu dei as mãos, serenas e intactas,
As minhas dores mais certas e reais.
Nos vários sítios que — abismos —
Toldaram minha voz por um olhar,
Eu evitei o perigo e os prejuízos
À voz feita de calma, meu cantar.
Aos rasgos que, de outrora, evocados
Foram sempre pelo seu valor,
Eu dei a minha tez de dúvida e de espanto,
O meu silêncio amargo, o meu calor,
E aos pontos cardeais que em volta, vacilantes,
Desalentavam já meu ser cativo,
Parei o gesto, roubei o pólo sul da esperança
Como lembrança para um dia altivo.
João Rui de Sousa
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