domingo, 6 de julho de 2014

POESIA - FRIEDRICH HOLDERLIN

O poeta lírico e romancista alemão Johann Christian Friedrich Holderlin, conhecido como Friedrich Holderlin, nasceu em Lauffen am Neckar, a 20 de Março de 1770. Na sua obra está presente o espírito da Grécia antiga e o romantismo sobre a natureza, numa forma não ortodoxa de cristianismo. É considerado um dos maiores poetas germânicos de todos os tempos. Holderlin faleceu em Tubigen, a 6 de Julho de 1843.
Poet'anarquista
Friedrich Holderlin
Poeta e Romancista Alemão
SOBRE O POETA…

Destinado à carreira eclesiástica, Friedrich Holderlin estudou teologia no seminário luterano Stift, em Tubingen, onde Hegel e Friedrich Schelling foram seus amigos inseparáveis. Em 1793, por intervenção de Johann Schiller, Holderlin se empregou como preceptor na casa de Charlotte von Kalb, em Waltershausen, mas deixou o cargo para seguir os cursos de Fichte em Yena. Logo depois, em grave crise depressiva, se recolheu à casa de sua mãe.

Premido pela necessidade, aceitou um novo emprego, por intervenção de Hegel, em casa do banqueiro Jakob Gontard, em Frankfurt, onde se apaixonou, de maneira exaltada, por Susette Gontard, esposa do seu empregador. É correspondido, mas a situação se torna insustentável, obrigando-o a abandonar Frankfurt e a refugiar-se em Homburg, com o amigo Isaac von Sinclair, antigo colega de Stift, que lhe arranja emprego em Bordéus.

Mas Holderlin sofre uma nova crise em Bordéus. Atravessa a fronteira da França a pé, sabe da morte de Susette Gontard - a «Diotima» dos seus poemas, e é encontrado por Schelling em estado lamentável em Homburg. 

Após uma fase de restabelecimento, sucede-se o colapso final, em 1806, e Holderlin é entregue aos cuidados de um amigo da família em Tubingen, em cuja casa permanece até ao fim da vida. Visitado esporadicamente pelos amigos e parentes, o poeta recebe-os em tom solene, com grandes mesuras, e intitula-se a si mesmo de «senhor bibliotecário».

Os poemas que Holderlin escreve nessa longa fase de loucura são assinados com nomes estranhos: Killalusimeno, Scardanelli, etc. À parte alguns períodos de lucidez, não retornou ao convívio social.

Mundo Mítico

Holderlin participou, como todos da sua geração, do clima de expectativa exagerado pelos sucessos revolucionários da França. Prestou inicialmente tributo às ideias da época, mas já em Tubingen revela-se diferente. 

Como Goethe e Schiller, era helenizante, mas a sua Grécia era tão estranha que aqueles poetas não entenderam as suas traduções de Sófocles, aparentemente absurdas. Como nos românticos, a natureza está presente na sua poesia, mas é uma outra natureza, ligada ao mundo mítico pagão da Grécia.

O que era só filologia clássica ou artifício poético consciente em Goethe e Schiller, transformou-se, para Holderlin, em realidade. Seu classicismo parece mais real, porque o poeta acreditou, de fato, nos deuses e na interferência das parcas, do destino.

Em princípio, Holderlin pode ser definido como poeta essencialmente religioso, combinando panteísmo órfico e elementos cristãos. 

Poeta do sagrado, descobrindo na Grécia antiga o lado dionisíaco, Holderlin foi ignorado por Goethe e exaltado por Nietzsche. Segundo Heidegger, foi um «poeta da poesia», pois acreditava que «o que permanece, fundam-no os poetas».
Fonte: UOLEducação

A PRIMAVERA

Da alta desmesura dos céus desce o novo dia,
A manhã desperta por entre as sombras,
Engalanada e alegre, à humanidade sorri,
À humanidade suavemente penetrada de júbilo.
Nova vida deseja abrir-se ao porvir,
Parece querer cobrir-se de inumeráveis flores
O grande vale, a Terra, sinal de dias felizes,
Afastando da Primavera os signos dolorosos

Scardanelli (aliás, Holderlin)

ÚLTIMO POEMA: PAISAGEM

Quando, ao longe, a vida que habitam os homens,
em direção ao tempo do resplendor das vinhas
se esvai,
despidos pelo verão se encontram os campos,
e em sombria imagem surge a floresta.
Que a natureza acrescente a imagem dos tempos,
e permaneça. E os tempos, velozes, deslizem;
da perfeição vem isso: que brilhem
para o homem as alturas do céu,
enquanto a árvore se vai coroando de flores.

Scardanelli (aliás, Holderlin)

VISÃO

Imagens que a plenitude do dia dá a ver aos homens,
No verdor da plana distância,
Antes que a luz decline para o crepúsculo,
E a ténue claridade amenize com doçura os sons do dia.
Escura, cerrada, parece a miúdo a interioridade do mundo,
Sem esperança, cheio de dúvidas o sentido dos homens,
Mas o esplendor da Natureza alegra seus dias
E distante jaz a obscura pergunta da dúvida.

Scardanelli (aliás, Holderlin)

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