segunda-feira, 7 de julho de 2014

«EUTANÁSIA», POR LORD BYRON


«Eutanásia»
Poema de Lord Byron

EUTANÁSIA

Quando o tempo me houver trazido esse momento, 
Do dormir, sem sonhar que, extremo, nos invade, 
Em meu leito de morte ondule, Esquecimento, 
De teu subtil adejo a langue suavidade! 

Não quero ver ninguém ao pé de mim carpindo, 
Herdeiros, espreitando o meu supremo anseio; 
Mulher, que, por decoro, a coma desparzindo, 
Sinta ou finja que a dor lhe estará rasgando o seio. 

Desejo ir em silêncio ao fúnebre jazigo, 
Sem luto oficial, sem préstito faustoso. 
Receio a placidez quebrar de um peito amigo, 
Ou furtar-lhe, sequer, um breve espaço ao gozo. 

Só amor logrará (se nobre à dor se esquive, 
E consiga, no lance, inúteis ais calar), 
No que se vai finar, na que lhe sobrevive, 
Pela vez derradeira, o seu poder mostrar. 

Feliz se essas feições, gentis, sempre serenas, 
Contemplasse, até vir a triste despedida! 
Esquecendo, talvez, as infligidas penas, 
Pudera a própria Dor sorrir-te, alma querida. 

Ah! Se o alento vital se nos afrouxa, inerte, 
A mulher para nós contrai o coração! 
Iludem-nos na vida as lágrimas, que verte, 
E agravam ao que expira a mágoa e enervação. 

Praz-me que a sós me fira o golpe inevitável, 
Sem que me siga adeus, ou ai desolador. 
Muita vida há ceifado a morte inexorável 
Com fugaz sofrimento, ou sem nenhuma dor. 

Morrer! Alhures ir... Aonde? Ao paradeiro 
Para o qual tudo foi e onde tudo irá ter! 
Ser, outra vez, o nada; o que já fui, primeiro 
Que abrolhasse à existência e ao vivo padecer!... 

Contadas do viver as horas de ventura 
E as que, isentas da dor, do mundo hajam corrido, 
Em qualquer condição, a humana criatura 
Dirá: "Melhor me fora o nunca haver nascido!"

Lord Byron

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