David de Jesus Mourão-Ferreira, poeta e escritor português, nasceu em Lisboa no dia 24 de Fevereiro de 1927. Foi um dos grandes poetas contemporâneos do séc. XX. Entre as muitas participações em jornais, com destaque para a «Seara Nova» e o «Diário Popular», foi um dos fundadores da revista «Távola Redonda». Depois do 25 de Abril exerceu o cargo de director do jornal «A Capital» e foi autor de alguns programas de televisão, de que se destacou o programa «Imagens da Poesia Europeia» na RTP. Condecorado com o grau de Grande Oficial pela «Ordem de Santiago da Espada» em 1981, recebeu em 1996 o prémio de «Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores», e neste mesmo ano recebeu a Grã-Cruz da «Ordem de Santiago da Espada». Faleceu em Lisboa a 16 de Junho de 1996.
Poet'anarquistaDavid Mourão-Ferreira
Poeta e Escritor Português
BREVE BIOGRAFIA
Escritor português (Lisboa, 24.2.1927 – Lisboa, 16.6.1996): poeta, ficcionista, tradutor, dramaturgo, ensaísta, cronista, crítico literário, conferencista, professor. Licenciou-se em Filologia Românica (1951) com a tese «Três Coordenadas na Poesia de Sá de Miranda», pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Integrou os corpos redactoriais das revistas Seara Nova e Graal (1956-1957). Teve a seu cargo a rubrica de crítica de poesia no Diário Popular (1954-1957). A partir desse ano exerceu funções docentes na Faculdade de Letras como assistente, tendo desenvolvido um excepcional trabalho de organização e regência da recém-criada cadeira de Teoria da Literatura, onde desenvolve estudos pioneiros, entre nós, sobre o new criticism.
Desempenhou as funções de Secretário Geral da Sociedade Portuguesa de Autores (1965-1974), dirigiu o diário A Capital (1974-1975). Exerceu em três governos o cargo de Secretário de Estado da Cultura (1976-1979), foi vice-presidente da Association Internationale des Critiques Littéraires (1984-1992), presidente da Associação Portuguesa de Escritores (1984-1986) e do Pen Club Português (1991).
Foi director do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian (1981-1996), bem como da revista Colóquio-Letras (1984-1996) propriedade da mesma instituição. Sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa (onde sucedeu a Vitorino Nemésio na cadeira nº 23). Sócio-Correspondente da Academia Brasileira de Letras.
Membro titular da Académie Européenne de Paris, viria também a ser agraciado com as mais prestigiosas condecorações de Portugal, do Brasil e da França. O nome de David Mourão-Ferreira ficaria também ligado ao de Amália Rodrigues que interpretou cerca de duas dezenas dos seus poemas.
Fonte: LAROUSSE
NÓS TEMOS CINCO SENTIDOS
Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio de asas.
- Como quereis o equilíbrio?
David Mourão Ferreira
NOCTURNO
O desenho
redondo do teu seio
Tornava-te mais cálida, mais nua
Quando eu pensava nele...Imaginei-o,
À beira-mar, de noite, havendo lua...
Talvez a espuma, vindo, conseguisse
Ornar-te o busto de uma renda leve
E a lua, ao ver-te nua, descobrisse,
Em ti, a branca irmã que nunca teve...
Pelo que no teu colo há de suspenso,
Te supunham as ondas uma delas...
Todo o teu corpo, iluminado, tenso,
Era um convite lúcido às estrelas....
Imaginei-te assim á beira-mar,
Só porque o nosso quarto era tão estreito...
- E, sonolento, deixo-me afogar
No desenho redondo do teu peito...
David Mourão Ferreira
A BOCA AS BOCAS
Apenas
uma boca. A tua Boca
Apenas outra , a outra tua boca
É Primavera e ri a tua boca
De ser Agosto já na outra boca
Entre uma e outra voga a minha boca
E pouco a pouco a polpa de uma boca
Inda há pouco na popa em minha boca
É já na proa a polpa de outra boca.
Sabe a laranja a casca de uma boca
Sabe a morango a noz da outra boca
Mas sabe entretanto a minha boca
Que apenas vai sentindo em sua boca
Mais rouca do que a boca a minha boca
Mais louca do que a boca a tua boca.
David Mourão-Ferreira
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