Reconhecida pela sua obra poética do género poesia confessional, Sylvia Plath suicidou-se no dia 11 de Fevereiro de 1963, apenas com 30 anos de idade. Esta poetisa norte-americana escreveu ainda um romance auto-biográfico, A Redoma de Vidro, com o pseudónimo de Victoria Lucas, contendo detalhes da sua luta contra a depressão.
Poet'anarquistaSylvia Plath
BIOGRAFIA
Por Wilton Rossi
Sylvia Plath nasceu em 27 de outubro de 1932 e matou-se em 11 de fevereiro de 1963, quanto tinha apenas 30 anos. Até então a sua única obra poética era The Colossus, publicado em 1960. Mas são os poemas escritos após a publicação do seu primeiro livro que a transformaram num mito da poesia contemporânea. Os seus últimos dez meses de vida foram marcados por uma intensa actividade poética que gerou os seus melhores poemas, uma obra que a lançou no patamar dos grandes poetas do século.
Plath é habitualmente classificada como poeta confessional. Neste sentido, a sua vida é retratada fielmente na sua poesia, de alto grau emocional. Plath sempre foi marcada por uma forte instabilidade, fruto do trauma causado pela morte do seu pai quando ainda era uma criança de oito anos. A morte do seu pai foi a gênese da imagem do colosso masculino, do deus másculo e onipotente que ela ao mesmo tempo adorava e repudiava.
Ecos que partem
A galope.
A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha
Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro
Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
Sylvia Plath
ARIEL
Estancamento no escuro
E então o fluir azul e insubstancial
De montanha e distância.
Leoa do Senhor como nos unimos
Eixo de calcanhares e joelhos!... O sulco
Afunda e passa, irmão
Do arco tenso
Do pescoço que não consigo dobrar.
Sementes
De olhos negros lançam escuros
Anzóis...
Negro, doce sangue na boca,
Sombra,
Um outro vôo
Me arrasta pelo ar...
Coxas, pêlos;
Escamas e calcanhares.
Branca
Godiva, descasco
Mãos mortas, asperezas mortas.
E então
Ondulo como trigo, um brilho de mares.
O grito da criança
Escorre pela parede.
E eu
Sou a flexa,
O orvalho que voa,
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho
Vermelho, caldeirão da manhã.
Sylvia Plath
Por Wilton Rossi
Sylvia Plath nasceu em 27 de outubro de 1932 e matou-se em 11 de fevereiro de 1963, quanto tinha apenas 30 anos. Até então a sua única obra poética era The Colossus, publicado em 1960. Mas são os poemas escritos após a publicação do seu primeiro livro que a transformaram num mito da poesia contemporânea. Os seus últimos dez meses de vida foram marcados por uma intensa actividade poética que gerou os seus melhores poemas, uma obra que a lançou no patamar dos grandes poetas do século.
Plath é habitualmente classificada como poeta confessional. Neste sentido, a sua vida é retratada fielmente na sua poesia, de alto grau emocional. Plath sempre foi marcada por uma forte instabilidade, fruto do trauma causado pela morte do seu pai quando ainda era uma criança de oito anos. A morte do seu pai foi a gênese da imagem do colosso masculino, do deus másculo e onipotente que ela ao mesmo tempo adorava e repudiava.
A sua vida foi marcada pela sombra de homens que considerava poderosos e opressores, figuras que ao mesmo tempo a inspiravam e a diminuíam. Ao lado do seu pai, Plath posicionou no seu pódio o seu marido Ted Hughes, também poeta, homem que ela admirava profundamente. Plath divinizava estas duas figuras masculinas e inseriu-as na sua poesia e na forma do mito do deus ausente ou morto, cuja ausência ou morte ora é lamentada, ora é celebrada.
O Seu casamento com Ted Hughe proporcionou-lhe a parceria ideal e Hughes substituiu em certa medida a figura paterna que a assombrava. Ambos dividiam os mesmos interesses e as mesmas leituras. Hughes era para ela o grande mentor que a educava e contribuía para o seu aprimoramento. Os dois chegaram a abandonar as suas profissões para viver apenas da poesia, mudando-se dos Estados Unidos para Londres, Inglaterra, em 1959. Este período marcou o início de sua fase madura, demonstrando claramente como a sua vida íntima se refletia na sua poesia.
No entanto, o ápice da sua produção poética só seria atingido após um período conturbado e traumático. Em Julho de 1962 Plath descobre o envolvimento adúltero de Hughes com outra mulher e o seu mundo desmorona. Plath percebe que vivia uma fantasia e esta constatação dá início à produção dos seus maiores poemas. O divórcio consuma-se em Outubro desse mesmo ano, um momento de intensa criatividade. Deste período são os poemas mais fortes e mórbidos de Plath. A morte está mais presente do que nunca. O seu imaginário é preenchido por sangue, desmembramento, ossos e órgãos internos que criam imagens muito fortes na sua poesia.
Plath muda-se em Dezembro com os seus dois filhos para um apartamento em Londres durante um dos mais frios invernos do século. Em janeiro, cerca de um mês antes do seu suicídio, é publicado The Bell Jar, um romance autobiográfico que explora o seu passado e os seus traumas.
A biografia de Sylvia Plath certamente é essencial para a compreensão de sua poesia, dado o poder de influência do seu pai e do seu marido na sua criatividade. Os seus maiores poemas, tais como "Daddy", "Lady Lazarus", "Purdah" e "Fever 103°", refletem com grande força as suas experiências existenciais. No entanto, a classificacão de Plath na categoria de poetas confessionais representa também o perigo de subestimar outras facetas de sua poesia que são tão importantes quanto o carácter biográfico da mesma. Num estudo brilhante datado de 1975, Judith Kroll faz uma excelente análise da face mítica da poesia de Plath. Segundo Kroll, o mito do grande deus morto lamentado pela deusa amante ou mãe é o ponto crucial na obra de Plath. O seu pai e seu marido representavam este deus poderoso. A admiração que Plath tinha por ambos mesclava-se com um sentimento de ódio, pois apenas a destruição de ambos lhe daria a autonomia para crescer. Somente livre da sombra destes homens ela podia desenvolver o seu potencial criativo.
De igual importância na poesia de Plath é o mito da lua, adorada como deusa em muitas culturas primitivas. A lua é o símbolo da inspiração poética, significando para Plath o seu destino enquanto criadora, sua musa e sua guia. A lua está presente de forma explícita em muitos poemas, especialmente na sua fase madura, e a sua influência enquanto mito pode ser sentida mesmo nos poemas em que não é mencionada de forma explícita. Em "Edge", que é muito provavelmente o último poema escrito por Plath, a lua assiste a tudo impassível, como uma presença implacável. Em "Elm" ela é "impiedosa".
O branco, cor mais significativa na sua poesia, é sempre o símbolo da morte, ou renovação, iminente. Nos poemas escolhidos aqui sentimos a sua presença no "branco zinco", nas "nuvens", na palidez cadavérica, na "serpente branca", no "leite", no "açúcar", no "capuz ósseo" da própria lua.
A idéia da morte na poesia de Plath não representa apenas o fim, a eliminação definitiva e completa da sua identidade. A morte mítica muitas vezes marca o início de um novo ciclo. Em muitos mitos absorvidos pela poesia de Plath a morte do deus é seguida pelo seu renascimento. É este o sentido da morte na sua poesia. O seu desejo de morte é nada menos que o desejo de transcendência, de renovação. Para Plath a morte é o fim de um estágio e o início de um período superior de vivência. Este viés interpretativo dá uma nova dimensão à poesia de Sylvia Plath, uma obra magnífica que se sustenta entre as maiores do século, a despeito dos factos trágicos que marcaram a sua vida.
PALAVRAS
Golpes
De machado na madeira,
E os ecos!Ecos que partem
A galope.
A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha
Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro
Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
Sylvia Plath
ARIEL
Estancamento no escuro
E então o fluir azul e insubstancial
De montanha e distância.
Leoa do Senhor como nos unimos
Eixo de calcanhares e joelhos!... O sulco
Afunda e passa, irmão
Do arco tenso
Do pescoço que não consigo dobrar.
Sementes
De olhos negros lançam escuros
Anzóis...
Negro, doce sangue na boca,
Sombra,
Um outro vôo
Me arrasta pelo ar...
Coxas, pêlos;
Escamas e calcanhares.
Branca
Godiva, descasco
Mãos mortas, asperezas mortas.
E então
Ondulo como trigo, um brilho de mares.
O grito da criança
Escorre pela parede.
E eu
Sou a flexa,
O orvalho que voa,
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho
Vermelho, caldeirão da manhã.
Sylvia Plath
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