sexta-feira, 11 de março de 2011

LITERATURA - SEBASTIÃO ALBA

O escritor e poeta Dinis Albano Carneiro Gonçalves, de pseudónimo Sebastião Alba, nasceu em Braga a 11 de Março de 1940. Em 1950 radicou-se com a sua família em Moçambique, onde acabou por se naturalizar cidadão moçambicano. Faz parte da nova vaga de escritores moçambicanos que tiveram grande relevância na literatura lusófona.
Poet'anarquista
Sebastião Alba
Escritor e Poeta Moçambicano
BIOGRAFIA

Sebastião Alba (Dinis Albano Carneiro Gonçalves): 11-Março-1940 / 14-Outubro-2000: Nasceu na freguesia da Cividade, Braga. Filho de Albano Moaz dos Santos Gonçalves, professor primário, e Adelaide Sebastiana Peixoto de Oliveira Carneiro, doméstica. 

Partiu em 1949, com nove anos, para a colónia de Moçambique, passando a viver em Tete com os seus pais e irmãos. No início da década de 50, após passar no exame de admissão ao Liceu Salazar de Lourenço Marques, frequentou o Colégio Camões e também o Instituto Liceal na Beira. Em finais dos anos 50, a família passou a viver em Quelimane. 

Após ter sido incorporado no Contingente Geral em Boane aos 21 anos, desertou no segundo dia. Acabou detido e acusado de extravio de bens militares: cinto e bivaque. Ficou detido por dois anos e meio, sem julgamento e sob tortura, no isolamento. No entanto, ainda se ausentou quatro vezes da Casa de Reclusão. Cumpriu os quinze meses de pena a que foi condenado pelo Tribunal Militar na 23ª Enfermaria do Hospital Miguel Bombarda. 

Acompanhou sempre o conflito armado entre o Exército Português e a FRELIMO. Tendo manifestado o seu apoio à FRELIMO após a independência, e após frequentar um curso de formação em Inhanbane, foi convidado para assumir o cargo de administrador da província da Zambézia. No entanto, desanimado, acabou por abandonar o cargo passados alguns meses sem sequer pedir demissão.

Acabou por se fixar em Maputo com a família, entrando em contacto com intelectuais e figuras políticas, tais como Marcelino dos Santos, Rui Nogar, Sérgio Vieira, Honwana, etc. Em Outubro de 1974, Sebastião Alba vê publicado O Ritmo do Presságio, acompanhado de uma nota de apresentação por José Craveirinha, na colecção O Som e o Sentido da Livraria Académica de Lourenço Marques. Em 1981 e 1982 são publicados, respectivamente, O Ritmo do Presságio e A Noite Dividida pelas Edições 70.

A desilusão com a situação política em Moçambique e a preocupação com as filhas fez com que, relutantemente, voltasse a Portugal em 1983. Após um período atribulado por várias desilusões, (divórcio dos pais, morte da mãe, morte do pai, divórcio da sua esposa) acaba por voltar a Braga, assando a habitar quartos de aluguer. O problema com o álcool e tabaco agravam-se. Toma vida de andarilho, acabando por viver na rua, por escolha própria.

Em 1996, é publicada pela Editora Assírio e Alvim, através da colaboração do poeta Herberto Hélder, A Noite Dividida, que tenta recuperar o conjunto da sua obra poética, embora incompleta.

Na manhã 14 de Outubro de 2000, foi atropelado mortalmente por um condutor que se pôs em fuga, em Braga. A 7 de Outubro, num bilhete quase premonitório ao amigo Vergílio Alberto Vieira escrevia: «Se um dia encontrarem morto "o teu irmão Dinis", o espólio será fácil de verificar: dois sapatos, a roupa do corpo e alguns papéis que a polícia não entenderá.»

A título póstumo, foi publicada em 2000 a antologia Uma Pedra Ao Lado Da Evidência, cujas provas ainda foram revistas por Sebastião Alba.
Fonte: Projecto Vercial

NINGUÉM MEU AMOR

Ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos.

Sebastião Alba

EPÍLOGO

Fui
hóspede desta mansão
na encruzilhada
dos meus sentidos.

O verso apenas é,
transversal e findo,
o poleiro evocativo
da ave do meu canto.

Essa ave em que o Outono
se perfila
e, cada vez mais exígua
no rumo e nas vigílias
do seu bando,
de súbito, espirala
até sumir-se
num país imaginário.

Sebastião Alba

CERTO DE QUE VOLTAS, CANÇÃO

Certo de que voltas, canção,
a incerta hora,
espero como quem mora
só, a visitação.
Sei, por sinais e anjos e desviados,
que rebentas dos sonhos desolados
em flores no chão.
Apenas flores, nem nimbos na lapela.
Flores para a mesa,
com o odor da certeza
de água, vinho e pão.
Apenas flores e tu,
ó meu amor sem nome,
e a nossa dupla fome
dum menino nu.

Sebastião Alba

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito Bonita a Sua POESIA!

Impressionante o SEU ACABAR!!!...

Uma Alandroalense (L...)