terça-feira, 30 de julho de 2013

POESIA - ÂNGELO DE LIMA

Ângelo Vaz Pinto Azevedo Coutinho de Lima, mais conhecido por Ângelo de Lima, nasceu no Porto, a 30 de Julho de 1872. Foi um poeta da corrente simbolista, membro da revista Orpheu, que viria a integrar expedição militar a Moçambique de onde regressou em estado mental debilitado. Da sua obra destacam-se «Poemas Inéditos», «Poesias Completas» e «Poemas in Orpheu 2 e outros escritos». Ângelo de Lima faleceu em Lisboa, a 14 de Agosto de 1921. Boas leituras!
Poet'anarquista
Ângelo de Lima
  Poeta Português

«Retrato do Doente Pragana»
Ângelo de Lima
SOBRE O POETA…

Escritor português, frequentou o Colégio Militar e estudou na Academia de Belas-Artes do Porto. 

Conspirador da revolução republicana de 31 de Janeiro, foi enviado, um pouco antes desta ocorrer, numa expedição militar a Moçambique. Após o seu regresso de África começou a manifestar os primeiros sintomas de loucura, sendo então internado. Uma parte significativa da sua vida seria passada em estabelecimentos psiquiátricos. 

Publicou pela primeira vez um conjunto significativo de poemas no segundo número da revista modernista Orpheu. Nesses poemas notam-se já algumas das características mais marcantes da sua poesia, nomeadamente o carácter desviante da linguagem e o emprego de vocábulos novos, o que o aproxima da corrente simbolista.

A sua linguagem poética parece reflectir a doença mental que o vitimou, e os seus versos, se por vezes dão a sensação de terem sido escritos no mais completo estado de alucinação, conseguem também ser extremamente lúcidos e bem construídos.

Tendo colaborado no Orpheu, a sua poesia aproxima-se mais da corrente simbolista do que da estética modernista. A sua obra poética, muito breve, encontra-se reunida em Poesias Completas (1971). 
Fonte: Astormentas

ESTES VERSOS ANTIGOS

Estes versos antigos que eu dizia
Ao compasso que marca o coração
Lembram ainda?... Lembrarão um dia...
— Nas memórias dispersas recolhidas
Sequer na piedosa devoção

De algum livro de cousas esquecidas?
— Acaso o que ora canta... vive... existe
Nunca mais lembrará — eternamente?
E vindo do não ser, vai, finalmente,
Dormir no nada... majestoso e triste?

Ângelo de Lima

SONETO

Pára-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento...

Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára um cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado...
Pára e fica e demora-se um momento.

Pára e fica na doida correria...
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria

Um olhar de aço que essa noite explora...
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.

Ângelo de Lima

 EU ONTEM VI-TE...

Andava a luz
Do teu olhar,
Que me seduz
A divagar
Em torno a mim.
E então pedi-te,
Não que me olhasses,
Mas que afastasses,
Um poucochinho,
Do meu caminho,
Um tal fulgor
De medo,amor,
Que me cegasse,
Me deslumbrasse,
Fulgor assim.   

Ângelo de Lima

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