O poeta português João José de Melo Cochofel Aires de Campos,
mais conhecido por João José Cochofel nasceu em Coimbra, a 17 de Julho de 1919. Pertenceu à geração neo-realista de Coimbra e foi um dos
organizadores da coleção de poesia do Novo Cancioneiro, em 1941. Além
de poeta, foi também ensaísta, crítico literário e musical. João José Cochofel
faleceu em Lisboa, no dia 14 de Março de 1982.
Poet’anarquista
João José Cochofel
Poeta Português
SOBRE O POETA…
Poeta e ensaísta português do núcleo neo-realista de
Coimbra, onde se formou em Ciências Histórico-Filosóficas. Colaborou na
organização do Novo Cancioneiro (1941), colectânea de poemas ligados a este
movimento literário, e em publicações periódicas (Altitude, Presença, Seara
Nova, Sol Nascente, Vértice, etc.) foi crítico musical e esteve à frente da
Academia de Amadores de Música de Lisboa.
Dirigiu o Grande Dicionário da Literatura Portuguesa e de
Teoria Literária. Da sua obra poética, caracterizada pela simplicidade retórica
e por um forte tom melancólico, destacam-se Instantes (1937), Búzio (1940), Sol
de Agosto (1941), Descoberta (1945), Os Dias Íntimos (1950), 46º Aniversário
(1966), Uma Rosa no Tempo (1970), O Bispo de Pedra (1975) e Obra Poética
(1989). De ensaios, deixou publicado um volume intitulado Iniciação Estética
(1959) e Iniciação Estética Seguido de Críticas e Crónicas (1992).
Fonte: astormentas.com
PARAÍSO PERDIDO
Que vens aqui fazer, espírito velho
de tudo o que foi perdido
e nunca mais achei?
Então...
ainda eu olhava o mundo
com meus olhos de manhãs azuis,
e nos lábios
havia ainda a ternura dos beijos moços
como a relva dos prados.
Foi mais tarde...
que a vida me entardeceu.
(Tardes enevoadas e frias,
abandonadas,
ermas
tristes como eu... )
Foi mais tarde...
que a tal desgraça se deu.
de tudo o que foi perdido
e nunca mais achei?
Então...
ainda eu olhava o mundo
com meus olhos de manhãs azuis,
e nos lábios
havia ainda a ternura dos beijos moços
como a relva dos prados.
Foi mais tarde...
que a vida me entardeceu.
(Tardes enevoadas e frias,
abandonadas,
ermas
tristes como eu... )
Foi mais tarde...
que a tal desgraça se deu.
João José Cochofel
OS DIAS ÍNTIMOS
Mói música um realejo,
poético de convenção.
Mas é hoje o que agrada
ao meu coração.
Com castanhas assadas,
chuva na imaginação,
e luzes molhadas
no asfalto do chão,
Egoísmo de bicho,
simulado ou não,
mas que bem me sabe
esta solidão.
Ó comedida felicidade,
com teu ópio vão
sobre tanta náusea
passa a tua mão.
poético de convenção.
Mas é hoje o que agrada
ao meu coração.
Com castanhas assadas,
chuva na imaginação,
e luzes molhadas
no asfalto do chão,
Egoísmo de bicho,
simulado ou não,
mas que bem me sabe
esta solidão.
Ó comedida felicidade,
com teu ópio vão
sobre tanta náusea
passa a tua mão.
João José Cochofel
PÓRTICO
Outros serão
os poetas da força e da ousadia.
Para mim
— ficará a delicadeza dos instantes que fogem
a inutilidade das lágrimas que rolam
a alegria sem motivo duma manhã de sol
o encantamento das tardes mornas
a calma dos beijos longos.
(Um ócio grande. Morre tudo
dum morrer suave e brando...
Que os outros fiquem com o seu fel
as suas imprecações
o seu sarcasmo.
Para mim
será esta melancolia mansa
que me é dada pela certeza de saber
que a culpa é sempre minha
se as lágrimas correm ...
os poetas da força e da ousadia.
Para mim
— ficará a delicadeza dos instantes que fogem
a inutilidade das lágrimas que rolam
a alegria sem motivo duma manhã de sol
o encantamento das tardes mornas
a calma dos beijos longos.
(Um ócio grande. Morre tudo
dum morrer suave e brando...
Que os outros fiquem com o seu fel
as suas imprecações
o seu sarcasmo.
Para mim
será esta melancolia mansa
que me é dada pela certeza de saber
que a culpa é sempre minha
se as lágrimas correm ...
João José Cochofel
1 comentário:
Injustiçados, os poetas esquecidos. Obrigado, por os ir lembrando!
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