«Peças Soltas
no Interior da Circunferência»
Descrição da Extremadura em Espanha
196- «PEÇAS SOLTAS NO INTERIOR DA CIRCUNFERÊNCIA»
Nota da narradora : (O texto que se segue não é retirado de
conversas ouvidas durante esta viagem pela Extremadura. É da minha lavra. E diz
respeito aos meus pais. Sobretudo, diz respeito a minha mãe. Já aqui falámos
dela, mas apenas de passagem. Agora, quero apresentá-la convenientemente.
Chegou à família Rodriguez Potra por via do casamento com o
meu pai. Era descendente dos Sambraz, família muito religiosa, com vários
sacerdotes e bispos entre os seus antepassados. Vinda da Extremadura espanhola,
esta família, chegou a Portugal no rescaldo da segunda guerra carlista, por
volta de 1.880.
Última Guerra Carlista
Registo Fotográfico
Família de grandes agrários, possuía propriedades tanto na
Extremadura como no Alentejo.
Embora o meu avô tivesse ido casar a Espanha, a verdade é
que em 1.936 já se considerava cidadão português, não só por ter nascido em
Portugal, mas também por ter aqui toda a sua vida organizada. A estes dois
motivos acrescia o facto de, pouco a pouco, ter vendido a maior parte das
propriedades que possuía na Extremadura, restando, por essa época, apenas uma
finca na região de Villanueva del Fresno. É precisamente de um episódio que se
passou nessa finca que vos quero falar, antes de passar a contar a história de
amor dos meus pais.
«Jaqueta Larga»
Lee Van Cleef
Aconteceu por volta de 1.942, quando os meus pais já eram
casados e o falecimento recente do avô Miguel da Mota, obrigou a minha mãe a
deslocar-se a Villanueva a fim de tratar de assuntos legais. A finca, nos
últimos anos, tinha estado à guarda de um caseiro em que a família depositava
toda a confiança. Qual não foi o espanto de minha mãe, na altura com vinte e
três anos, quando se deparou com a casa a servir de abrigo a cinco ou seis
guerrilheiros que vinham corridos das serranias de la Serena. Aguardavam ali a
oportunidade de passar para Portugal, passagem essa que já estaria aprazada
para dali a uns dias, com a cumplicidade de companheiros portugueses.
Efectivamente, uns dias depois desapareceram, não sem que antes, aquele que
parecia ser o chefe, e que dava pelo nome de Jaqueta Larga, se ter dirigido a
minha mãe com um enorme ramo de flores silvestres, dizendo: “ Para la mas guapa
e gallarda señorita extremeña “.
«La Gallarda»
Francisca Galhardas
Quando minha mãe regressou ao monte das Courelas e relatou
este episódio ao marido e aos cunhados, ficou a ser conhecida, no meio
familiar, por “la Gallarda“. E assim ficou, la Gallarda, até à sua
morte.)
Eveline Sambraz
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