«A Zona do Crepúsculo»
Passeio ao Crepúsculo/ Van Gogh
384- «A ZONA DO CREPÚSCULO»
Eric e o avô subiram a colina e observaram o horizonte. Era
aquele momento do dia que precede a noite, quando o sol lança seus últimos
raios sobre a cidade. O céu estava alaranjado e as nuvens ficavam
multicoloridas, como gigantescos algodões doces de vários sabores.
-É verdade que existe um pote de ouro no fim do arco-íris,
vovô?
O velhinho sorriu.
-Não, Eric. Não é verdade.
O menino ficou desapontado, pois queria acreditar nessa
história.
-O pote de ouro fica na Zona do Crepúsculo. É este lugar
para onde estamos olhando agora.
-Zona do Crepúsculo? Como assim, vô?
-Feche os olhos, meu neto.
O menino obedeceu.
-Agora abra e diga se alguma coisa mudou.
O menino reparou que as cores no céu estavam um pouco mais
escuras. As nuvens já tinham mudado de forma. E o sol se encontrava um pouco
mais escondido.
-Lá é uma terra mágica, Eric. E a nós só é dado o prazer de
ver um tiquinho dela, assim bem de longe, durante poucos minutos do dia.
-Nossa, vô, deve ser muito bonito lá. Como é mesmo o nome?
-Zona do Crepúsculo. Havia uma série de televisão com esse
nome, há muito tempo. Mas acho que eles nunca explicaram por que se chamava
assim. Tive que descobrir por conta própria.
-Eu quero ir pra lá, vovô, e pegar o pote de ouro.
O velhinho riu e afagou os cabelos do garoto.
-Ouro é o menos importante por lá. Naquele lugar acontecem
coisas além da imaginação. Há duendes, fadas, dinossauros, magos... tudo o que
você sonhar.
Rapidamente a tela iluminada do horizonte ia sumindo, dando
lugar a um céu negro.
-Viu como só conseguimos vê-la por poucos minutos, Eric? Não
podemos desperdiçar essas oportunidades. Agora vamos, antes que seus pais
fiquem preocupados.
Caminharam de mãos dadas e, mais tarde, despediram-se com um
abraço.
Naquela noite Eric dormiu e teve sonhos agradáveis com um
país mágico, onde era possível voar até as nuvens e tocar o céu. Lá o tempo
parava o quanto você quisesse, e assim era possível ficar olhando o pôr do sol
por horas. Havia no ar borboletas do tamanho de pássaros, que
disputavam a atenção com os cavalos alados e os pterodátilos. Um rio de mel
corria pelo lugar, com pequenas caravelas de chocolate navegando.
Quando sua mãe o chamou pela manhã, ele não quis acordar. A
vontade era prolongar ao máximo aquela estadia na Zona do Crepúsculo, mesmo que
imaginária, e sentiu-se triste por ter que voltar ao mundo real.
-Eu estava tendo um sonho tão bom, mãe...
Ela sorriu, mas respondeu com um ar grave:
-Desculpe, querido. É que preciso te contar uma coisa.
-O que, mãe?
-É o vovô... ele foi pro céu.
E esforçando-se para sorrir, ela deixou cair uma lágrima.
Eric lembrou-se do dia anterior, do momento em que o avô
chegou para visitá-lo, até quando despediram-se, e de tudo o que conversaram.
-Não, mamãe. O vovô não está no céu. Ele foi para outro
lugar...
L.F. Reisemberg
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