sábado, 10 de janeiro de 2015

OUTROS CONTOS

«A Zona do Crepúsculo», por L.F. Reisemberg.

«A Zona do Crepúsculo»
Passeio ao Crepúsculo/ Van Gogh

384- «A ZONA DO CREPÚSCULO»

Eric e o avô subiram a colina e observaram o horizonte. Era aquele momento do dia que precede a noite, quando o sol lança seus últimos raios sobre a cidade. O céu estava alaranjado e as nuvens ficavam multicoloridas, como gigantescos algodões doces de vários sabores.

-É verdade que existe um pote de ouro no fim do arco-íris, vovô?

O velhinho sorriu.

-Não, Eric. Não é verdade.

O menino ficou desapontado, pois queria acreditar nessa história.

-O pote de ouro fica na Zona do Crepúsculo. É este lugar para onde estamos olhando agora.

-Zona do Crepúsculo? Como assim, vô?

-Feche os olhos, meu neto.

O menino obedeceu.

-Agora abra e diga se alguma coisa mudou.

O menino reparou que as cores no céu estavam um pouco mais escuras. As nuvens já tinham mudado de forma. E o sol se encontrava um pouco mais escondido.

-Lá é uma terra mágica, Eric. E a nós só é dado o prazer de ver um tiquinho dela, assim bem de longe, durante poucos minutos do dia.

-Nossa, vô, deve ser muito bonito lá. Como é mesmo o nome?

-Zona do Crepúsculo. Havia uma série de televisão com esse nome, há muito tempo. Mas acho que eles nunca explicaram por que se chamava assim. Tive que descobrir por conta própria.

-Eu quero ir pra lá, vovô, e pegar o pote de ouro.

O velhinho riu e afagou os cabelos do garoto.

-Ouro é o menos importante por lá. Naquele lugar acontecem coisas além da imaginação. Há duendes, fadas, dinossauros, magos... tudo o que você sonhar.

Rapidamente a tela iluminada do horizonte ia sumindo, dando lugar a um céu negro.

-Viu como só conseguimos vê-la por poucos minutos, Eric? Não podemos desperdiçar essas oportunidades. Agora vamos, antes que seus pais fiquem preocupados.

Caminharam de mãos dadas e, mais tarde, despediram-se com um abraço.

Naquela noite Eric dormiu e teve sonhos agradáveis com um país mágico, onde era possível voar até as nuvens e tocar o céu. Lá o tempo parava o quanto você quisesse, e assim era possível ficar olhando o pôr do sol por horas. Havia no ar borboletas do tamanho de pássaros, que disputavam a atenção com os cavalos alados e os pterodátilos. Um rio de mel corria pelo lugar, com pequenas caravelas de chocolate navegando.

Quando sua mãe o chamou pela manhã, ele não quis acordar. A vontade era prolongar ao máximo aquela estadia na Zona do Crepúsculo, mesmo que imaginária, e sentiu-se triste por ter que voltar ao mundo real.

-Eu estava tendo um sonho tão bom, mãe...

Ela sorriu, mas respondeu com um ar grave:

-Desculpe, querido. É que preciso te contar uma coisa.

-O que, mãe?

-É o vovô... ele foi pro céu.

E esforçando-se para sorrir, ela deixou cair uma lágrima.

Eric lembrou-se do dia anterior, do momento em que o avô chegou para visitá-lo, até quando despediram-se, e de tudo o que conversaram.

-Não, mamãe. O vovô não está no céu. Ele foi para outro lugar...

L.F. Reisemberg

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