«Pirotecnia»
Conto de Adriana Lisboa
652- «PIROTECNIA»
Um menino sonhou com fogos de artifício.
Anos mais tarde, ele descobriu que as palavras às vezes
formavam versos. Tornou-se poeta e durante toda a vida quis relatar o
itinerário daquele sonho de infância.
Remexeu nos dicionários e encontrou a possibilidade de criar
imagens híbridas como sereias ou manticórias (animal fabuloso com corpo de leão e cabeça de homem).
Versos que soavam como café fresco, que corrompiam como
aguardente pura, que salvavam como um lírio branco.
Anos mais tarde, publicou sua colectânea de poemas. O último
deles se chamava «Os fogos paralelos» e era seu projeto de vida levado a cabo:
fogos de artifícios transformados em versos.
Anos mais tarde, certa leitora comprou a colectânea. Ao
enveredar pelo último poema, percebeu que as palavras assumiam cores diferentes
e brilhavam sobre o fundo negro da página branca, ofuscando as estrelas, e
impregnavam todo o livro com um discreto cheiro de pólvora.
Adriana Lisboa
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