quarta-feira, 28 de outubro de 2015

OUTROS CONTOS

«Pirotecnia», por Adriana Lisboa.

«Pirotecnia»
Conto de Adriana Lisboa

652- «PIROTECNIA»

Um menino sonhou com fogos de artifício.

Anos mais tarde, ele descobriu que as palavras às vezes formavam versos. Tornou-se poeta e durante toda a vida quis relatar o itinerário daquele sonho de infância.

Remexeu nos dicionários e encontrou a possibilidade de criar imagens híbridas como sereias ou manticórias (animal fabuloso com corpo de leão e cabeça de homem).

Versos que soavam como café fresco, que corrompiam como aguardente pura, que salvavam como um lírio branco.

Anos mais tarde, publicou sua colectânea de poemas. O último deles se chamava «Os fogos paralelos» e era seu projeto de vida levado a cabo: fogos de artifícios transformados em versos.

Anos mais tarde, certa leitora comprou a colectânea. Ao enveredar pelo último poema, percebeu que as palavras assumiam cores diferentes e brilhavam sobre o fundo negro da página branca, ofuscando as estrelas, e impregnavam todo o livro com um discreto cheiro de pólvora.

Adriana Lisboa

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