segunda-feira, 5 de outubro de 2015

OUTROS CONTOS

«Em Defesa da Língua Portuguesa», conto poético de António Dinis da Cruz e Silva.

«Em Defesa da Língua Portuguesa»
Acordo Ortográfico? Não!

633- «EM DEFESA DA LÍNGUA PORTUGUESA»

[O Hissope - Canto V] 

Desta audácia, Senhor, deste descôco 
Que entre nós, sem limite, vai lavrando, 
Quem mais sente as terríveis conseqüências 
É a nossa português, casta linguagem, 
Que em tantas traduções anda envasada 
(Traduções que merecem ser queimadas!) 
Em mil termos e frases galicanas! 
Ah! se, as marmóreas campas levantando, 
Saíssem dos sepulcros, onde jazem 
Suas honradas cinzas, os antigos 
Lusitanos varões, que, com a pena 

Ou com a espada e lança, a Pátria ornaram; 
Os novos idiotismos escutando, 
A mesclada dição, bastardos termos 
Com que enfeitar intentam seus escritos 
Estes novos, ridículos autores; 

(Como se a bela e fértil língua nossa, 
Primogênita filha da Latina, 
Precisasse de estranhos atavios) 
Súbito, certamente pensariam 
Que nos sertões estavam de Caconda, 
Quilimane, Sofala ou Moçambique; 
Até que, já, por fim, desenganados 

Que eram em Portugal, que os Portugueses 
Eram também os que costumes, língua, 
Por tão estranhos modos afrontaram, 
Segunda vez, de pejo, morreriam. 

António Dinis da Cruz e Silva

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