«O Palhaço»
Poema de Janet Frame
1083- «O PALHAÇO»
A sua cara está manchada por lágrimas maquilhadas.
Eu e os outros aplaudimo-lo, sabendo
que é de bom tom aprovar quando um palhaço chora
e de mau tom quando o faz uma cara persistentemente
dorida sejam ou não pintadas as suas lágrimas.
Também é de bom tom, entre guerras,
dizer que o ódio é amor e o amor é ódio,
argumentar que tudo é mais complexo do que sonhámos
e depois dizer que não o sonhámos
sempre o soubemos e somos sensatos.
Caro palhaço choroso caro velho infantil
caro assassino gentil caro e inocente culpado
cara simplicidade odeio-vos por causarem que eu finja
que há vários mundos para uma verdade quando
eu sei, eu sei que não há. Pessoas como eu e vocês, meus
caros,
que têm mau hálito, que adormecem e de intestinos ruidosos
que controlam a fé
que chegam à casa vazia ou entre a família,
cara família, caro homem solitário no mundo despedaçado de
ninguém,
será para essa desolação que acumulámos palavras durante
tantos
milhões de anos, desde o primeiro, gememos e olhamos para as
estrelas.
Oh oh o céu é demasiado amplo para dormir debaixo!
Janet Frame
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