O poeta português contemporâneo José Agostinho Baptista,
nasceu no Funchal, Ilha da Madeira, a 15 de Agosto de 1948. A sua escrita
original é considerada por alguns nomes da poesia, como uma das mais importantes da actualidade na língua
portuguesa. José Agostinho Baptista já leva 11 livros publicados no seu
currículo literário.
Poet’anarquista
José Agostinho Baptista
Poeta Português
SOBRE O POETA…
Nasceu a 15 de Agosto de 1948 na cidade do Funchal (Ilha da
Madeira).
Colaborou na imprensa, nomeadamente no Comércio do Funchal e
mais tarde no República e no Diário de Lisboa, cujo suplemento "O
Juvenil" o tornou conhecido como poeta.
Desde então e ao longo dos dez livros já publicados, a sua
poesia vem sendo reconhecida como uma dos mais originais e importantes na
actualidade, como bem assinalaram, entre outros, António Ramos Rosa, Fernando
Pinto do Amaral ou Joaquim Manuel Magalhães nos ensaios que lhe dedicaram.
Simultaneamente, José Agostinho Baptista tem vindo a assinar
diversas traduções de autores como Walt Whitman, W.B. Yeats, Tennessee
Williams, Paul Bowles, Enrique Vila-Matas.
Fonte : Wook
FLUIR
«Talvez em ti acabem hoje todas as nascentes,
e nas rugas que, numa e noutra face,
esculpiram o medo e a sabedoria,
se possa ler em comovido olhar
o princípio, o meio e o fim desse caudaloso
fluir que outrora chamámos vida.
Talvez agora, tal como ontem e sempre,
comece a própria morte,
aquilo que nos devora,
aquilo que nos convoca para o silêncio e para
a mão que escreve, sonâmbula e feroz,
estremecendo.»
«Talvez em ti acabem hoje todas as nascentes,
e nas rugas que, numa e noutra face,
esculpiram o medo e a sabedoria,
se possa ler em comovido olhar
o princípio, o meio e o fim desse caudaloso
fluir que outrora chamámos vida.
Talvez agora, tal como ontem e sempre,
comece a própria morte,
aquilo que nos devora,
aquilo que nos convoca para o silêncio e para
a mão que escreve, sonâmbula e feroz,
estremecendo.»
José Agostinho Baptista
INVERNO
O medo está no inverno.
O medo
bate nos olhos com as suas ferramentas negras e
depois anuncia a morte.
No inverno
penso na terra, no silêncio da terra e dos astros e
das rosas,
no teu grande silêncio, pai.
No inverno
volto-me para baixo, para os alicerces
do mundo.
No inverno
dizes de muito longe que não voltarás aqui.
O medo
bate nos olhos com as suas ferramentas negras e
depois anuncia a morte.
No inverno
penso na terra, no silêncio da terra e dos astros e
das rosas,
no teu grande silêncio, pai.
No inverno
volto-me para baixo, para os alicerces
do mundo.
No inverno
dizes de muito longe que não voltarás aqui.
José Agostinho Baptista
DA NOSSA MORTE
Agora é tarde.
Ninguém responde às cartas que escrevi e
atirei ao mar,
quando pensei que um dia serias como esse
marinheiro que num sonho antigo abençoava
o filho e depois partia nas asas do albatroz.
Agora é tarde.
Ninguém responde à sombria música dos meus
punhos golpeando a cadeira vazia, a mesa, as
folhas em branco onde uma única palavra se
aproxima,
manejando as suas armas-
três letras, três sinais de fogo.
Agora é tarde.
Ninguém cala os tempestuosos rios no fundo
dos meus olhos,
quando penso nos vermes, nas viscosidades
que te procuram através do cetim.
Agora é tarde.
Ninguém responde às cartas que escrevi e
atirei ao mar,
quando pensei que um dia serias como esse
marinheiro que num sonho antigo abençoava
o filho e depois partia nas asas do albatroz.
Agora é tarde.
Ninguém responde à sombria música dos meus
punhos golpeando a cadeira vazia, a mesa, as
folhas em branco onde uma única palavra se
aproxima,
manejando as suas armas-
três letras, três sinais de fogo.
Agora é tarde.
Ninguém cala os tempestuosos rios no fundo
dos meus olhos,
quando penso nos vermes, nas viscosidades
que te procuram através do cetim.
José Agostinho Baptista
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