«Simão, o Cireneu»
Conto de Oscar Wild
675- «SIMÃO, O CIRENEU»
O velho sentou-se com a cabeça encurvada e as costas
doloridas enquanto as censuras, fúteis de sua colérica mulher, lhe feriam os
ouvidos.
Semelhante a uma infindável cascata, ela espadanava toda uma
série de recriminações: imbecil barbudo, por que desperdiças o teu tempo
vagabundeando pelas estradas? O teu pai, o teu avô e o teu bisavô foram todos
guardiães do Templo; se estivesses a postos quando foste chamado, sem dúvida
terias sido nomeado guardião como os outros. Agora, porém, um homem mais
expedito foi o escolhido. Tu, o mais idiota dos homens, preferiste vagabundear
pelas estradas, afim de que, renegado, pudesses carregar a cruz de um jovem
carpinteiro sedicioso.
– Isto é verdade – disse o velho -, encontrei um jovem que
ia ser crucificado e o centurião mandou-me carregar a cruz. Carreguei-a até o
cimo da colina e demorei-me porque as palavras que ele pronunciou, embora
grandemente maltratado, não eram de pesar por ele mesmo e, sim, pelos outros;
as suas palavras retardaram-me lá. Por isso esqueci tudo mais.
– Sim, na verdade esqueceste tudo mais e o pouco senso que
possuías, e regressaste demasiadamente tarde para ser guardião do Templo! Não
estás envergonhado ao pensares que teu pai, teu avô e teu bisavô, foram todos
guardiães da Casa do Senhor, que seus nomes estão lá escritos em letras de ouro
e serão lidos pelos homens do futuro para todo o sempre? Quanto a ti, velho
tonto, quando morreres isolado de todos os parentes, quem se lembrará neste
mundo de Simão, o Cireneu?
Oscar Wild
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