«Colina de Samambaias»
Conto Poético de Dylan Thomas
662- «COLINA DE SAMAMBAIAS»
Quando, junto à casa em festa, sob os ramos da macieira,
Eu era lépido e jovem, e feliz como era verde a relva,
A noite suspensa sobre as estrelas
do desfiladeiro,
O
tempo a permitir que eu gritasse e me erguesse,
Dourado, no fulgurante apogeu de seus
olhos,
Eu, venerado entre as carroças, era o príncipe da cidade das
maçãs,
E certa vez, com orgulho, fiz com que as árvores e as folhas
Se arrastassem com margaridas e cevada
Até os rios iluminados pelos frutos
caídos sobre a terra.
E como era moço e descuidado, famoso entre os celeiros
Ao redor do pátio feliz, e cantava, pois a fazenda era o meu
lar,
Sob o sol, que é jovem apenas uma vez,
O tempo
deixava-me brincar e ser dourado
Na misericórdia de seus bens,
E, verde e dourado, eu era caçador e pastor, mugiam os
bezerros
Ao som de minha trompa, das colinas vinha o uivo claro e
frio das raposas,
E lentamente
ecoava a celebração do domingo
Nos seixos dos córregos sagrados.
Tudo fluía e era belo sob o sol: os campos de feno
Altos como a casa, a música das chaminés, tudo era ar
E ecoava, cheio de água e
sortilégio,
E fogo era
tão verde quanto a relva,
E à noite, sob a luz das estrelas
humildes,
Enquanto eu cavalgava rumo ao sono, as corujas subjugavam a
fazenda,
E sob a lua, abençoado entre os estábulos, eu ouvia os
noitibós
Voando entre as
medas, e os cavalos
Que flamejavam em meio às trevas.
E então, ao despertar, a fazenda, como um vagabundo
Branco de orvalho, regressa com o galo sobre o ombro: tudo
Fulgia, tudo era Adão e sua donzela,
O céu se adensava outra
vez
E o sol crescia ao redor daquele dia imaculado.
Assim deve ter sido após o nascimento da luz elementar
No primitivo espaço giratório, e os ardentes cavalos
encantados
Saíam relinchando da
verde estrebaria
Rumo ao campo da celebração.
E na casa em festa, venerado entre raposas e faisões,
Sob as nuvens recém-formadas, e tão feliz quanto era grande
o coração,
Ao sol que renasce a cada dia,
Eu corria por meus
caminhos temerários,
Meus desejos se precipitavam pelo alto
feno da casa
E nada me importava, em meu comércio celestial, pois o tempo
Em suas órbitas melodiosas, só concede raras canções
matinais
Antes que
as crianças verdes e douradas
O acompanham até o estertor da graça,
Nada me importava, nos dias brancos como cordeiros, que o
tempo
[me levasse,
Pela sombra de minhas mãos, até o paiol cheio de andorinhas,
Sob a lua que jamais deixa de galgar os
céus,
Nem mesmo, ao cavalgar rumo
ao sono,
Que chegasse a ouvi-la flutuar entre os
altos campos
E acordasse na fazenda apagada para sempre nessa terra sem
crianças,
Ah! Quando eu era lépido e jovem, na misericórdia de seus
bens,
Embora eu cantasse em meus grilhões como canta
o mar.
Dylan Thomas
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