sexta-feira, 25 de outubro de 2013

«AQUELE MAR» versus «MAR DE ODECEIXE»

25 de Outubro de 1960, morre em Lisboa o poeta português João de Barros. «Aquele Mar», poema que hoje se publica no espaço de poesia, assim como dedicatória de Matias José ao seu homólogo, com o título «Mar de Odeceixe». Pode ainda ler por aqui- «POESIA - JOÃO DE BARROS», sobre vida e obra do autor português.
Poet'anarquista
João de Barros
Poeta Português, por A. Taborda

AQUELE MAR

Aquele mar
da minha infância,
bom camarada e meu irmão
a sua voz, o seu olor, sua fragrância
tanto os ouvi e respirei
que trago em mim o seu largo ritmo,
seu ritmo forte,
como se as praias onde espuma
quase me fossem
praias sem fim dentro de mim
ocultas praias, largas praias
do tumultuoso coração…

Aquele mar
meu confidente de horas idas
tudo escutava e adivinhava
do meu pueril e ingénuo anseio.
Nada sonhei que o não dissesse
– frémito de alma, grito ou prece –,
às madrugadas e aos poentes,
ao sol, às nuvens, ao luar,
ora nascendo, ora morrendo
nos longos, longos horizontes
em que se perdia o meu olhar…

Aquele mar
na calma azul, no temporal,
nunca mentia: era um só beijo,
hálito puro, largo harpejo
que me entendia e respondia
no seu inquieto marulhar…
Moço e menino, solitário,
rochas, falésias, areais
eu coroava-os de alegria
nos meus passeios matinais.
Ou nalgum barco pescador,
velas abrindo a todo o pano,
do oceano então era senhor,
largava a escota, navegava,
no vão desejo de aventuras,
que não chegava a realizar…

Mas era meu, e eu pertencia-lhe,
àquele mar,
era seu filho, escravo e dono,
sorria à sua Primavera,
amava a luz do seu Outono,
o vivo lume dos estios
a violência dos Invernos
longos clamores de temporais.
Aflito voo das gaivotas
junto das negras penedias,
também como ele me perdias,
nas tardes tristes e sombrias,
na bruma gélida das noites…
E a eternidade então ouvia
humano sonho sempre esquecido
na eterna voz que fala o mar.

João de Barros

«Mar de Odeceixe»
Poema de Matias José

ODECEIXE MAR

Tarde calma... sem mar revolto,
Na praia a maré-alta se anuncia,
Sempre o mesmo lugar onde volto...
Um prenúncio?... Talvez profecia!?

As mesmas casas ali defronte
Para o mar todos os dias…
Guardião das ondas... Rinoceronte,
Guardas segredos e magias!

Oh!... Mar salgado que envolves
Esse teu manto azul de céu,
Vens!... Vais!... Espero que voltes
E me envolvas nesse véu!

Se puderes... leva contigo
O sorriso de um olhar,
Ou este amor antigo
Que tenho para te dar!

Mar de Odeceixe... infinita Beleza,
Dádiva Santa da Natureza!!!

Matias José 

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu irmão, essa escrita é beleza(:

Anónimo disse...

Dois poemas LINDOS sobre o mar a cargo dos poetas João de Barros e Matias José. Muito grata pela sua sensibilidade.

LV