O poeta e jornalista português João Apolinário Teixeira
Pinto, mais conhecido por João Apolinário, nasceu em Belas, Sintra, a 18 de
Janeiro de 1924. Grande ativista e combatente do fascismo, tendo estado várias
vezes preso pelo regime, acabou por exilar para o Brasil onde aí permaneceu alguns
anos. Memorizou, em cinco dias, numa pequena cela subterrânea do forte de
Peniche, o seu livro de poemas «Morse de Sangue». João Apolinário faleceu no
Alentejo, em Portalegre, a 22 de Outubro de 1988.
Poet’anarquista
João Apolinário
Poeta Português
SOBRE O POETA...
Intelectual português que se exilou no Brasil em Dezembro de
1963, por oposição cultural ao regime de António de Oliveira Salazar, João
Apolinário nasceu no dia 18 de Janeiro de 1924 em Belas, Sintra. Tinha
dois anos de idade quando começou no seu país um período longo de ditadura – 48 anos – com enorme austeridade social, política, económica e cultural.
Tendo frequentado as Faculdades de Direito das Universidades
de Coimbra e de Lisboa, onde se graduou, aos 21 anos de idade era jurista,
poeta e jornalista.
Foi correspondente de guerra e nessa qualidade fez parte,
como tenente do exército francês, em 1945, do primeiro contingente de
jornalistas que viu na sua extensão real, física e humana, a devastação causada
na Europa pelas forças em conflito na Segunda Guerra Mundial e os horrores dos
campos de concentração, o que marcou a sua trajectória.
De volta a Portugal em 1949, opôs-se
ao salazarismo e a todas as formas de opressão.
Depois de 12 anos de exílio no Brasil e,
no início de 1975, viveu a liberdade que a Revolução de 25 de Abril de 1974
permitiu ao povo português.
Até Outubro de 1988, com 64 anos, em Marvão onde vivia com sua
mulher, a pesquisadora brasileira Maria Luiza Teixeira Vasconcelos, João
Apolinário centrou as suas atenções quase exclusivamente na poesia.
Nos seus últimos 14 anos de vida, editou «Apátridas», «AmorfazerAmor», «Poemas Cívicos», «O Poeta Descalço», «Eco Humus
Homem Lógico» e deixou inéditos os «Sonetos Populares Incompletos».
João Apolinário morreu em 22 de Outubro de 1988, na bonita vila alentejana de Portalegre. É pai
do músico João Ricardo, criador do grupo Secos & Molhados, e de Maria
Gabriela.
Texto de: Maria Luiza Teixeira Vasconcelos
DA ESCRITA
Da poesia
faço
uma raiz
que gera
a haste
oculta
da palavra
em flor
Abro as portas
desta melancolia
fechada no poema
por nascer
e sinto essa magia
suprema
de o escrever
Da poesia
faço
uma raiz
que gera
a haste
oculta
da palavra
em flor
Abro as portas
desta melancolia
fechada no poema
por nascer
e sinto essa magia
suprema
de o escrever
João Apolinário
É preciso avisar toda a gente
dar notícia informar prevenir
que por cada flor estrangulada
há milhões de sementes a florir
É preciso avisar toda a gente
segredar a palavra e a senha
engrossando a verdade corrente
duma força que nada detenha
É preciso avisar toda a gente
que há fogo no meio da floresta
e que os mortos apontam em frente
o caminho da esperança que resta
É preciso avisar toda a gente
transmitindo este morse de dores
É preciso imperioso e urgente
mais flores mais flores mais flores
João Apolinário
OS INFINITOS ÍNTIMOS
Não me cinjas
a voz
não me limites
não me queiras
assim
antecipado
Eu não existo
onde me pensas
Eu estou aqui
agora
é tudo
Esta causa
Que me retoma
Em cada dia
Age na esperança
Em que respira
Esta necessidade
De estar vivo
No círculo
em que se fecha
o que em mim
respira
há um suicídio
de memórias
que não cabem
no que em mim
existe
Já fui longe de mais
matando-me nas pedras
que atiro contra mim
sentindo o que não sei
Há por aí alguém
que queira vir comigo
atrás do que seremos
quando tivermos sido?
O que resta de nós
Dorme a noite invisível
Que ainda nos sobra
O que me cansa
é o diabo da esperança
O que ficará de mim
nos restos digitais
do tempo
quando chegar
o fim
de que me ausento
Não me cinjas
a voz
não me limites
não me queiras
assim
antecipado
Eu não existo
onde me pensas
Eu estou aqui
agora
é tudo
Esta causa
Que me retoma
Em cada dia
Age na esperança
Em que respira
Esta necessidade
De estar vivo
No círculo
em que se fecha
o que em mim
respira
há um suicídio
de memórias
que não cabem
no que em mim
existe
Já fui longe de mais
matando-me nas pedras
que atiro contra mim
sentindo o que não sei
Há por aí alguém
que queira vir comigo
atrás do que seremos
quando tivermos sido?
O que resta de nós
Dorme a noite invisível
Que ainda nos sobra
O que me cansa
é o diabo da esperança
O que ficará de mim
nos restos digitais
do tempo
quando chegar
o fim
de que me ausento
João Apolinário
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