A poetisa, escritora ficcionista, cronista e dramaturga brasileira Hilda Hilst, nasceu em Jaú, Estado de São Paulo, a 21 de Abril de 1930. É
considerada pela crítica especializada como uma das maiores escritoras em
língua portuguesa do séc. XX. Hilda Hilst faleceu em Campinas, a 4 de Fevereiro de 2004.
Poet'anarquista
Hilda Hilst
Poetisa Brasileira
SOBRE A AUTORA...
A poeta, escritora e dramaturga Hilda Hilst
nasceu em 21 de Abril de 1930, na cidade interior de Jaú, no Estado de São Paulo.
Era a única filha de Apolónio de Almeida Prado Hilst, fazendeiro, jornalista,
poeta e ensaísta, e de Bedecilda Vaz Cardoso. Quando ainda era muito nova, seus pais decidiram
separar-se, e assim ela se transferiu com a mãe para Santos. Seu pai passou boa
parte da existência, a partir dos 35 anos, internado num sanatório, na cidade
de Campinas, pois era portador de uma esquizofrenia incurável.
Hilda estudou em colégio interno durante oito anos,
transferindo-se em 1945 para o curso clássico
do Mackenzie. Nesta época ela residia com uma governanta num apartamento
localizado na Alameda Santos. Ao completar 16 anos finalmente foi visitar o
pai, recolhido na sua fazenda, mas ao fim de três dias não mais suportou as
crises paternas.
Orientada pela mãe ingressa, em 1948, na Faculdade de
Direito do Largo São Francisco, pertencente à Universidade de São Paulo,
graduando-se em 1952. Este período académico marcou o início da sua vida na
boémia, estilo que preservou até 1963. A sua melhor amiga nos meios
universitários foi a escritora Lygia
Fagundes Telles, que a escolheu para a organização do evento em 1949, na Faculdade,
quando lançou a sua obra de contos «O Cacto Vermelho».
Hilda era admirada e desejada por empresários, poetas, como Vinicius de
Moraes, e os mais diversos artistas, por
possuir uma beleza sem igual. Em 1950 publica a sua primeira obra, «Presságio»,
seguida de« Balada de Alzira», editada em 1951. Com o término da Faculdade,
lança «Balada do Festival».
Em 1957 ocorre um fato curioso; a escritora parte para a
Europa e vive um breve namoro com o actor Dean Martin. Ela segue dedicando-se
cada vez mais à literatura, inspirando o seu primo José António de Almeida
Prado a compor a Canção para soprano e piano, entre outras obras, e
influenciando também os compositores Adoniran Barbosa e Gilberto Mendes. No ano
de 1966 toma uma decisão crucial na sua vida e na sua carreira literária,
transferindo-se para a Casa do Sol, chácara localizada perto de Campinas, em
busca da solidão para melhor desenvolver o seu processo criativo. Ali reuniu,
ao longo de muitos anos, escritores e artistas.
A escritora produziu uma vasta obra, por um período de quase
cinquenta anos, recebendo os prémios mais importantes da Literatura e da
Dramaturgia, como o Prémio PEN Clube de São Paulo, pelo livro «Sete Cantos do
Poeta para o Anjo», e o Prémio Anchieta pela peça «O Verdugo».
Em 1968 casa-se com o escultor Dante Casarini, passando a
residir com ele no mesmo refúgio em que se encerrara para produzir a sua obra,
tão irreverente quanto o comportamento da escritora, muito moderno para sua
época, abordando temas como o homossexualismo e o lesbianismo.
Escreveu, entre
outros, «Presságio», «Balada de Alzira», «Balada do Festival», «Roteiro do
Silêncio», «Trovas de Muito Amor para um Amado Senhor», «Ode Fragmentária (
Poesia)»; «Fluxo – Floema, Qadós, Ficções» (Ficção); «A Possessa», «O Rato no Muro»,
«O Visitante» (Teatro).
Hilda Hilst partiu desta vida em 4 de Fevereiro de 2004, em
Campinas.
Fonte: www.infoescola.com/escritores
SONETOS QUE NÃO SÃO
Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha.)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.
Hilda Hilst
DO DESEJO
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.
Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível
E o que eu desejo é luz e imaterial.
Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?
Hilda Hilst
O POETA INVENTA VIAGEM, RETORNO E MORRE DE SAUDADE
Se for possível, manda-me dizer:
- É lua cheia. A casa está vazia -
Manda-me dizer, e o paraíso
Há de ficar mais perto, e mais recente
Me há de parecer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia
Tão longo como a noite. Se é verdade
Que sem mim só vês monotonia.
E se te lembras do brilho das marés
De alguns peixes rosados
Numas águas
E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
- É lua nova -
E revestida de luz te volto a ver.
Hilda Hilst
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