Decorria o ano de 1979. O Novembro maldito de 1975 havia se encarregado de destruir muitas conquistas do povo trabalhador alentejano. Eram assassinados no Escoural Casquinha e Caravela às mãos da GNR, sem dó nem piedade. O povo alentejano sentiu na pele um castigo que se pensou não ser mais possível voltar a acontecer, depois de quase meio século de ditadura e repressão nos campos do Alentejo. Para que ninguém esqueça o que aconteceu aos nossos compatriotas... aqui os recordarmos, hoje e sempre!
Poet'anarquista
«Cantata, Pranto e Louvor»
Em Memória de Casquinha e Caravela
Em memória de José Caravela e António Maria Casquinha
Mortos em Montemor-o-Novo pela Guarda
27 DE SETEMBRO DE 1979
O primeiro governo constitucional, chefiado por Mário Soares, deu início, em 1976, a uma brutal ofensiva contra as Conquistas da Revolução, tendo como objectivo destruir tudo o que de mais avançado e progressista tinha sido alcançado - ofensiva que foi prosseguida por todos os governos que lhe sucederam ao longo de 32 anos.
Contra ela foi lançada uma operação cheia de ódio de classe que se desenvolveu através de ilegalidades, de roubos de terras e de gado, de sabotagens e de violenta repressão policial. A resistência dos trabalhadores foi heróica.
No dia 27 de Setembro de 1979, uma força da GNR - comandada pelos capitães
Martins e Faria e pelo sargento Maximino, todos conhecidos pelo seu ódio à Reforma
Agrária - acompanhada por um grupo de agrários e por funcionários do Ministério
da Agricultura, procedeu a um roubo de um rebanho de vacas na UCP Bento
Gonçalves, no concelho de Montemor-o-Novo.
Os trabalhadores resistiram.
A GNR, agindo como no tempo do fascismo a mando dos agrários, disparou ferindo vários trabalhadores e assassinando dois:
Casquinha já sem vida, com apenas 17 anos
Assassinado pela GNR em 1979
O Governo, na altura chefiado por Maria de Lurdes Pintasilgo, mandou
instaurar um inquérito.
A principal conclusão desse inquérito também fazia lembrar as conclusões
tiradas pelos ministérios do interior no tempo do fascismo quando as forças
repressivas matavam:
A GNR disparou, sim, mas para o ar...
«Funeral de Casquinha e Caravela»
Cemitério do Escoural
O Cravo de Abril assinala, hoje, o assassinato dos dois camaradas com um poema
escrito no dia do seu funeral, que se realizou para o cemitério de Escoural e
ao qual acorreram dezenas de milhares de pessoas.
Texto: Cravo de Abril
Texto: Cravo de Abril
«Cravo de Abril Ferido»
Poema de José Gomes Ferreira
I
Aqui
nesta planície de sol suado
dois homens desafiaram a morte, cara a cara,
em defesa do seu gado
de cornos e tetas.
Aqui
onde agora vejo crescer uma seara
de espigas pretas.
II
Quando os dois camponeses desceram às covas,
ante os punhos cerrados de todos nós,
chorei!
Sim, chorei
sentindo nos olhos a voz
do que há de mais profundo
nas raízes dos homens e das flores
a correrem-me em lágrimas na face.
Chorei pelos mortos e pelos matadores
- almas de frio fundo.
III
Digam-me lá:
para que serviria ser poeta
se não chorasse
publicamente
diante do mundo?
José Gomes Ferreira
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