«O Rei e a Florista»
A Florista/ Murillo
921- «O REI E A FLORISTA»
Era uma vez um jovem rei que governava um pequeno reino. O
rei vivia num castelo com seus servos, mas não tinha uma esposa. Toda a semana
passeava pelo seu reino para ver como andavam as coisas. Um dia, ao retornar ao
castelo, passou por uma praça. Lá viu uma moça que vendia flores numa
banca. Era tão linda que não a conseguia tirar dos seus pensamentos. Começou a
sair todos os dia e passar pela praça. Não havia como não se comportar de outro
modo.
Quando se passara um mês, percebeu que amava a garota e que
se casaria com ela. Mas de que maneira ele deveria agir?
Imaginou o que ocorreria se ordenasse para a moça se casar
com ele e depois não o amasse. Esse pensamento incomodava o rei, pois não
queria somente uma rainha, mas antes uma esposa que o amasse. Seria ela capaz
de esquecer que ele era o rei e ela uma mera florista?
Como poderia conquistar o coração dela?
O rei tentava achar uma solução para seu problema. Nem comia
ou dormia. Depois de alguns dias, encontrou um caminho. Viria a ela à praça com
uma carruagem dourada puxada por seis de seus melhores cavalos. Diante iria a
banda tocando e atrás dele, o melhor regimento de seu exército em belos
uniformes. A carruagem pararia na banca da donzela e um tapete vermelho se
desenrolaria. Chegaria a ela com suas mais majestosas vestes com a coroa
e as jóias reais. Certamente ela ficaria impressionada.
Porém, um pouco depois o rei se arrependeu. Isso seria
errado. Ela com certeza ficaria impressionada. Entretanto, ser impressionada
e amar não é a mesma coisa.
Então o rei teve outra ideia. Presentear-lhe-ia a carruagem
dourada com os seis cavalos. Daria o regimento dos soldados, a banda marchante,
jóias, dinheiro e as mais belas roupas. Seguramente ela seria grata. Todavia,
no dia seguinte o rei também abandonou a ideia. Ser grata, ser eternamente
grata e amar não são a mesma coisa.
Finalmente, o rei percebeu que realmente só havia uma
solução. Ele deveria chegar à donzela não como um príncipe, mas vestido como um
mendigo ou um camponês e tentar conquistá-la como um igual a ela.
Na manhã seguinte, enquanto estava ainda escuro, o jovem rei
saiu do castelo pelas portas do fundo e caminhou para a praça. Sentia nervoso e
inseguro. Ele, que tinha poder sobre todo o reino, poder sobre todas as
riquezas do país e soldados, estava nesse instante sem poder. Havia uma coisa
sobre a qual não tinha poder: o coração da donzela. Este tinha a
liberdade de amá-lo ou deixá-lo, liberdade de dizer sim ou não.
Se o rei teve sucesso com seu plano? Não sabemos. Isso
depende inteiramente da donzela.
Soren Kierkegaard
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