«O Cachorro»
Eu e o Cão
915- «O CACHORRO»
Nós dois no quarto: meu cachorro e eu. Lá fora, a tempestade uiva, desenfreada, assustadora. O cachorro está sentado à minha frente e olha-me directo nos olhos. Eu também olho para os olhos dele. Parece que quer me dizer alguma coisa. É mudo, sem fala, nem entende a si mesmo, mas eu o entendo. Entendo que neste instante, nele e em mim, vive o mesmo sentimento e entre nós não existe a menor diferença. Somos idênticos; em cada um, arde e brilha a mesma chama, pequena e trémula. A morte virá voando, vai abanar sobre essa chama suas asas frias e largas...
E fim! Depois, quem poderá distinguir que chama ardeu em
cada um de nós? Não! Não são um animal e um homem que se olham...
São dois pares de olhos idênticos, concentrados um no outro.
E em cada par de olhos, no animal e no homem, a mesma vida assustada tenta se
agarrar no outro.
Ivan Turgueniev
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