sexta-feira, 3 de março de 2017

OUTROS CONTOS

«Diálogo», conto poético por Manel d' Sousa.

Mote: Manuel Laranjeira.

«Diálogo»
Pintura de Guayasamin

O ÚLTIMO DIÁLOGO

Mote

Ao morrer, os olhos dizem:
– “Pára, Morte, e espera aí!
Vida não vás tão depressa
Que eu inda te não vivi..."

Manuel Laranjeira

990- «DIÁLOGO»

(1º Capítulo)

Perdi esperança em ver
Quem de mim anda fugida…
A vida é pra ser vivida,
Não há tempo a perder.
O que vier a suceder
Pode até que valorizem,
Outros depressa maldizem
E quem pouco lhe importe…
Seja a luz fraca ou forte,
Ao morrer, os olhos dizem!

Falas de mim apressada
Que não tenho paciência,
Eu com a minha vivência
Digo que estás enganada.
Vou em marcha sossegada,
Que bem se vai por aqui!...
Saudades do que não vi,
Quem viu, que as guarde…
Fica pra dizer mais tarde:
– “Pára, Morte, e espera aí!

Quando vem à memória
O meu passado distante…
Tudo acabou no instante,
Sem momentos de glória.
Ao recordar esta história
Que o tempo atravessa,
A vida mostra-se avessa
E teima seguir em frente…
Peço que sejas paciente,
Vida não vás tão depressa!

Ainda ontem menino
Que brincava ao pião,
Sentia o bater do coração
Às voltas com o destino.
Entrei em desatino
E de mim próprio fugi,
Segurar não consegui
Essa imagem do passado…
Vida, por ti aguardo,
Que eu inda te não vivi!

Manel d’ Sousa

1 comentário:

Anónimo disse...

Como sempre, irrepreensível! Excelente trabalho, o mote não ajuda muito.