quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

«BASTA!», POR NOÉMIA DE SOUSA

Noémia de Sousa
Poetisa Moçambicana

BASTA!

“Bates-me e ameaças-me,
Agora que levantei minha cabeça esclarecida 
E gritei: “Basta!”  
Armas-me grades e queres crucificar-me 
Agora que rasguei a venda cor-de-rosa 
E gritei: “Basta!”  
Condenas-me à escuridão eterna
Agora que minha alma de África se iluminou 
E descobriu o ludíbrio.. 
E gritei, mil vezes gritei: ―Basta! 
Ó carrasco de olhos tortos, 
De dentes afiados de antropófago 
E brutas mãos de Orango: 
Vem com o teu cassetete e tuas ameaças, 
Fecha-me em tuas grades e crucifixa-me, 
Traz teus instrumentos de tortura 
E amputa-me os membros, um a um... 
Esvazia-me os olhos e condena-me à escuridão eterna... 
― que eu, mais do que nunca,
Dos limos da alma, 
Me erguerei lúcida, bramindo contra tudo: 
Basta! Basta! Basta!”  

Noémia de Sousa

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