«O Anónimo»
Conto de Ignácio de Loyola Brandão
359- «O ANÓNIMO»
[Presença da Tragédia]
Se alguém me matasse. Se eu fosse abatido a tiros por uma
amante, pelo marido de uma de minhas amantes, por um neurótico pela fama, por
um serial killer americano que tivesse vindo ao Brasil, pelo engano de um
traficante, por um assaltante num cruzamento, por uma das milhares de balas
perdidas que cruzam a cidade, por uma dessas motos enraivecidas que alucinam o
transito, por um colega de profissão inconformado com a minha fama.
Se morresse numa inundação, atingido por um raio ou por uma
árvore derrubada por um vendaval. Por um remédio com data vencida, por uma
comida estragada.
Uma tragédia noticiada por toda a mídia, alimentada e
realimentada, provocando manchetes vorazes, devoradas com prazer pelo publico e
construindo a minha legenda. Melhor que fosse algo misterioso. O noticiário
duraria mais tempo, o caso seria revisto por curiosos dispostos a desvendar
enigmas. Provocar a necessidade de uma autópsia, de exumação. Ser o enigma do
século seria a minha glória.
Se eu tivesse essa certeza, não me incomodaria de estar
morto.
Ignácio de Loyola Brandão
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