A Águia Prisioneira
Poema de António Feijó
A ÁGUIA PRISIONEIRA
(A Manuel da Silva Gaio)
Águia soberba a quem mão perversa de escravo,
Num ócio de tirano, os olhos arrancou!
E, a gozar desse feito o delicioso travo,
Da jaula hedionda a férrea porta escancarou...
A águia, aturdida e cega, a princípio esvoaçava
Rente ao chão, e a roçar com as asas na terra,
Sem saber donde vinha a dor que a lancinava,
Nem que mistério aquela obscuridade encerra.
Mas na ânsia de luz a devora sem tréguas,
Cobra o ânimo, e erguendo o voo, a tudo alheia,
Lança-se para o azul, sob léguas e léguas,
Sem poder dissipar a treva que a rodeia.
E tão alto subiu no seu voo desfeito,
Que de repente, não podendo respirar,
Sentiu que lhe estalava o coração no peito,
E veio aos pés do escravo exânime rolar...
Alma humana! Águia cega em perpétua ansiedade,
Por mais alto que eleve o desvairado arrojo,
Quando julga atingir a suprema verdade,
No pó, donde partiu, cai outra vez de rojo!
António Feijó
Poet'anarquista
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