«Bonecos de Luz»
Romance de Romeu Correia
531- «BONECOS DE LUZ»
[Excerto]
-Amanhã...é dia de Natal, não é?
Que sim - retorquiu o vendedor de sinas - amanhã era o dia
mais bonito do ano.
-Mais bonito porquê? - resmunguei, a espevitar discussão.
-Olha, o mais bonito! Estás cuma febre!...
Que eu não devia teimar - volveu ele, às boas. -O dia de
Natal era considerado por toda a gente o mais belo dia do ano.
À falta de melhor, saiu-me esta pela boca fora:
-Tem juízo! O melhor dia do ano não pode ser no inverno!
Vale mais um dia de calor que todos estes meses de frio!
-É a grande festa da família! Há rancho melhorado em todas as casas, lojas abertas até à noite! Mas são os miúdos que ficam a ganhar: põem a bota na chaminé e recebem brinquedos do Menino Jesus.
-Bem...- gaguejou ele, desculpando-se. - Para estas coisas acontecerem não
bastava a boa vontade do Menino Jesus...Primeiro era preciso que cada rapazinho
tivesse um par de botas...Não admirava, portanto, que a garotada descalça de pé
e perna não apanhasse nada.
Indignado, cresci para o gigante com outra pergunta:
-Mesmo que eu tivesse botas...qu' é do sítio?!
-...Qu'é do sítio?... - murmurou ele, sem atingir o alcance
da minha objecção.
-Qu'é da chaminé para pôr as botas!?- concluí sem me fazer
esperado.
-Ah!
Romeu Correia
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