«Lenda da Gruta de Camões»
Camões na Gruta de Macau/ Metrass
529- «LENDA DA GRUTA DE CAMÕES»
O poeta Luís de Camões vivia em Macau numa espécie de
desterro, provocado por invejas e inimizades em Portugal. As intrigas
obrigaram-no também a deixar aquela terra, tendo embarcado como prisioneiro na
famosa Nau de Prata, nos finais de 1557.
Luís de Camões despediu-se da famosa gruta de Patane, em
Macau, que tinha escutado o eco dos seus sonhos e do seu desespero, e
apresentou-se ao capitão da Nau de Prata. Interrogado sobre o papel enrolado
que levava na mão, Camões respondeu que era toda a sua fortuna e que talvez
fosse aquela a sua herança para todos os Portugueses.
Tratava-se da epopeia «Os Lusíadas» que contava a história
do seu povo e que, segundo a lenda, terá sido escrita naquela gruta. Escritos
com toda a alma e toda a saudade de português, injustamente privado da pátria,
aqueles versos eram o maior de todos os seus tesouros e os únicos companheiros
do seu infortúnio.
Da amurada da nau, estava Camões a despedir-se da gruta,
quando ouviu uma voz de mulher que o interrogava sobre a sua tristeza. Era uma
nativa de Patane, que o conhecia, e em quem ele nunca tinha reparado, apesar da
sua extrema beleza. Tin-Nam-Men era o nome da nativa que, na sua língua,
significava Porta da Terra do Sul - a Porta do Paraíso.
Tin-Nam-Men tinha observado Camões, durante muito tempo, sem
nunca se atrever a falar-lhe até àquele dia. Perdidamente apaixonada por
Camões, tinha-o seguido até ao barco.
Partindo com o poeta, conta a lenda que, na Nau de Prata,
nasceu mais uma relação amorosa na vida já tão romanesca de Luís de Camões, até
ao trágico dia em que uma tempestade irrompeu nos mares do Sul.
Como a Nau de Prata estava condenada a afundar-se,
embarcaram as mulheres num batel e os homens salvaram-se a nado. Camões, de
braço no ar, segurando Os Lusíadas, nadou até terra, mas o barco onde seguia a
linda Tin-Nam-Men foi engolido pelas ondas.
Foi à bela Dinamene, como o poeta lhe chamou, que Camões
terá dedicado os seus belos sonetos «Alma minha gentil, que te partiste...» e
também «Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste».
Lendas Portuguesas
ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento Etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
Luís Vaz de Camões
AH! MINHA DINAMENE! ASSIM DEIXASTE
Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Quem não deixara nunca de querer-te!
Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!
Como já pera sempre te apartaste
De quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?
Nem falar-te somente a dura Morte
Me deixou, que tão cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!
Oh mar! oh céu! oh minha escura sorte!
Que pena sentirei que valha tanto,
Que inda tenha por pouco viver triste?
Luís Vaz de Camões
Sem comentários:
Enviar um comentário