«De Castelo em Castelo»
Romance de Louis-Ferdinand Céline
548- «DE CASTELO EM
CASTELO»
[Pequeno Excerto]
[...] tentei deitá-la em cima da palha... logo após o
amanhecer... não queria que eu a deitasse... não quis... queria ficar em outro
lugar... no lado mais frio da casa e em cima das pedras... deitou-se
calmamente... começaram os roncos... era o fim... haviam me dito, eu não
acreditava... mas era verdade, estava deitada no sentido da recordação, de onde
viera, do Norte, da Dinamarca, o focinho ao norte, virado para o norte...
cadela a seu modo tão fiel, fiel aos bosques de suas escapadas, Korsor, lá no
alto... fiel também à vida atroz... os bosques de Meudon não lhe diziam nada...
morreu após dois... três pequenos estertores... ah, discretíssimos... sem um só
lamento... por assim dizer... numa pose de fato muito bonita, como em pleno
ímpeto, em fuga... mas de lado, prostrada, acabada... o focinho para as suas
florestas das fugas, lá longe de onde vinha, onde sofrera... só Deus sabe!
Ah, vi muitas agonias... aqui... ali... por todo lado... mas
nem de longe tão belas, discretas... fiéis... o que estraga a agonia dos homens
é a pompa... o homem afinal está sempre no palco... até o mais simples [...].
Louis-Ferdinand Céline
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