«A Menina do Ovo de Avestruz»
Conto Africano
549- «A MENINA DO OVO DE AVESTRUZ»
Seetetelane era um rapaz pobre. Não tinha terra, nem vaca,
nem mulher. Vivia só, na savana. Caçava arganazes para comer. Das pequenas
peles fazia a roupa.
Um dia, andava ele à caça de arganazes, quando encontrou um
ovo de avestruz, o maior que já alguma vez vira.
— Que sorte! — exclamou Seetetelane. — Até que enfim a sorte
chega a alguém tão pobre como eu! Vou levar o ovo para a minha palhota. Vai
ficar lá abrigado até vir a época das chuvas.
Arrastou o ovo até à sua palhota e, pelo caminho, ia pedindo
que a sorte o não abandonasse e o fizesse feliz.
— Espero bem — exclamava. — Espero que a sorte fique comigo!
Guardou o ovo debaixo do telhado de palha e voltou à caça de
arganazes.
Quando regressou muito tarde, viu, para surpresa sua, que a
palhota estava arrumada. Em cima da mesa estava um pão acabado de cozer e, ao
lado, um jarro com cerveja também fresca.
— Como é possível? — exclamou Seetetelane. — Até parece que
passou por aqui alguma mulher! Como nos meus sonhos mais lindos!
Mas, como estava com fome, não pensou mais nisso. Comeu,
bebeu, e ficou satisfeito.
No segundo e terceiro dia, aconteceu o mesmo: quando
Seetetelane regressava à noite, parecia que uma mulher tinha arranjado tudo com
amor. No quarto dia, ao sair para a caça, Seetetelane esqueceu-se do cachimbo
na palhota. Voltou atrás e reparou que estava alguém dentro da sua palhota.
Aproximou-se devagar e pôs-se à espreita. Uma rapariga
desconhecida, bonita, arrumava a casa, enchia o jarro de cerveja e punha pão
fresco no cesto. Quando tudo estava já em ordem, a rapariga ia enfiar-se no ovo
de avestruz.
— Não! — gritou Seetetelane e segurou-a pela mão. — Fica
aqui! Fica comigo!
Respondeu-lhe a rapariga:
— Tiveste tanta esperança e desejaste tanto, que a sorte
veio ter contigo. Fico de boa vontade. Mas nunca poderás censurar-me por ser
uma rapariga simples, saída de um ovo de avestruz!
Seetetelane prometeu.
Viveram felizes um com o outro.
Certo dia, Seetetelane disse:
— É bom estar contigo. Mas tenho saudade de estar com outras
pessoas com quem possa falar, comer, festejar.
A rapariga pegou num malho, saiu de casa e começou a bater
num monte de erva à porta da palhota. Do tufo de erva começaram a sair pessoas,
velhos e novos, vacas que mugiam, cães que ladravam.
Seetetelane ao ouvir aquele barulho, saiu da palhota a
correr.
— Agora já não tens motivo para te sentires só — disse-lhe a
rapariga.
As pessoas saídas do tufo de erva rodeavam Seetetelane.
— Prosperidade e saúde, chefe! — exclamavam eles. Os cães
abanavam as caudas.
Seetetelane era agora o chefe da tribo. Já não usava roupas
feitas com pele de arganaz mas sim de pêlo macio de chacal, e dormia numa bela
esteira. Tinha o suficiente para comer e beber, e tinha pessoas que trabalhavam
para ele. Estava muito satisfeito com a vida.
Uma noite, Seetetelane tinha acabado de esvaziar o jarro da
cerveja. Levantou-se para chamar a rapariga mas não a viu. Então zangou-se e
gritou:
— Onde é que te meteste, rapariga do ovo de avestruz?
A rapariga apareceu e olhou com ar triste para Setetelane.
— Já te esqueceste do que tinhas prometido, Seetetelane?
— Ora… — respondeu ele. Esvaziou a caneca e adormeceu.
No dia seguinte, quando acordou, nem queria acreditar no que
os seus olhos viam: estava deitado na sua antiga esteira, com a roupa velha de
pêlo de arganaz. O jarro com cerveja, os copos bonitos, o pão, as iguarias,
tudo tinha desaparecido.
A rapariga também tinha desaparecido e, com ela, o ovo de
avestruz, de onde tinha saído. O vento soprava na erva, em frente da palhota.
As pessoas todas, as vacas e os cães que a rapariga lhe tinha oferecido, tinham
desaparecido.
Seetetelane levantou-se, triste, e foi procurar o ovo de avestruz. Mas, por mais que procurasse,
nunca mais o encontrou.
Wilhelm Meissel
Seetetelane levantou-se, triste, e foi procurar o ovo de avestruz. Mas, por mais que procurasse,
nunca mais o encontrou.
Wilhelm Meissel
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