domingo, 4 de dezembro de 2011

POESIA - RAINER RILKE

Rainer Maria Rilke nasceu em Praga na República Checa, à altura pertencente ao Impéio Austro-Húngaro, a 4 de Dezembro de 1875. Foi um poeta simbolista de transição para o realismo e dos mais importantes poetas da língua alemã do séc. XX. Rilke faleceu a 29 de Dezembro de 1926, em Valmont, na Suíça.
Poet'anarquista
Rainer Rilke
Poeta Checo
BIOGRAFIA

Nascido em Praga, que então fazia parte do império austro-húngaro, Rilke teve uma infância difícil e traumática, marcada pela separação dos pais e pelo suicídio de um irmão.

Estudou Literatura e História da Arte nas Universidades de Praga, Munique e Berlim. Em 1894, aos 19 anos, publicou poemas de amor intitulados «Vida e Canções».

Em 1897, Rilke conheceu Lou Andreas-Salomé, escritora russa que depois se tornaria psicanalista. Com Lou Salomé, conhecida como uma mulher sedutora e bem relacionada, em 1899, viajou pela Rússia, impressionando-se com as suas paisagens. No ano seguinte, escreveu «Histórias do Bom Deus».

No começo do século 20, Rilke afastou-se do simbolismo francês e passou a escrever num estilo mais realista. Publicou «O livro das Imagens» (1902) e a série de versos «O livro das Horas» (1905).

Em Paris, em 1901, Rilke casou-se com Clara Westhoff, uma discípula do famoso escultor francês Rodin, com quem teve uma filha. O casamento durou apenas um ano. Entre 1905 e 1906 o escritor trabalhou como secretário de Rodin, que exerceu grande influência sobre os seus poemas.

«Os Cadernos de Malte Laurids Brigge» foram escritos em 1910 e são considerados pela crítica como a sua obra em prosa mais importante.

De 1910 a 1912, Rilke viveu no castelo de Duíno, na região de Trieste, como convidado da princesa Maria Von Thurn und Taxis. Aí escreveu os poemas que formam «A Vida de Maria» (1913). Também começou a escrever «Elegias de Duíno», que foram publicadas em 1923.

Durante a Primeira Guerra Mundial, Rilke permaneceu em Munique. Depois de realizar uma viagem pelos países mediterrâneos, estabeleceu-se Suíça, onde faleceu em 1926.
Fonte: UOLEducação

O SOLITÁRIO

Como alguém que por mares desconhecidos viajou,
assim sou eu entre os que nunca deixaram a sua pátria;
os dias cheios estão sobre as suas mesas
mas para mim a distância é puro sonho.

Penetra profundamente no meu rosto um mundo,
tão desabitado talvez como uma lua;
mas eles não deixam um único pensamento só,
e todas as suas palavras são habitadas.

As coisas que de longe trouxe comigo
parecem muito raras, comparadas com as suas;
na sua vasta pátria são feras,
aqui sustém a respiração, por vergonha.

Rainer Rilke

A CANÇÃO DO SUICIDA

Só mais um momento.
Que voltem sempre a cortar-me
a corda.
Há pouco estava tão preparado
e havia já um pouco de eternidade
nas minhas entranhas.

Estendem-me a colher,
esta colher de vida.
Não, quero e já não quero,
deixem-me vomitar sobre mim.

Sei que a vida é boa
e que o mundo é uma taça cheia,
mas a mim não me chega ao sangue,
a mim só me sobe à cabeça.

Aos outros alimenta-os, a mim põe-me doente;
compreendei que há quem a despreze.
Durante pelo menos mil anos
preciso agora fazer dieta.

Rainer Rilke

RECORDAÇÃO

E tu esperas, aguardas a única coisa
que aumentaria infinitamente a tua vida;
o poderoso, o extraordinário,
o despertar das pedras,
os abismos com que te deparas.

Nas estantes brilham
os volumes em castanho e ouro;
e tu pensas em países viajados,
em quadros, nas vestes
de mulheres encontradas e já perdidas.

E então de súbito sabes: era isso.
Ergues-te e diante de ti estão
angústia e forma e oração
de certo ano que passou.       

Rainer Rilke

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