«Fausto»
Johann Wolfgang von Goethe
618- «FAUSTO»
Aqui estou eu: Filosofia,
Medicina e Jurisprudência,
E para meu mal até Teologia
Estudei a fundo, com paciência.
E reconheço, pobre diabo,
Que sei o mesmo, ao fim e ao cabo!
Chamam-me Mestre, Doutor, sei lá quê,
E há dez anos que o mundo me vê
Levando atrás de mim a eito
Fiéis discípulos a torto e a direito –
E afinal vejo: nosso saber é nada!
E de ficar com a alma amargurada.
Sei mais, é claro, que todos os patetas,
Mestres, doutores, escribas e padrecas;
Nem escrúpulos nem dúvidas eu temo,
E não receio nem Inferno nem demo –
Mas não me resta réstia de alegria,
Nem me iludo com vã sabedoria,
Nem creio que tenha nada a ensinar
À humanidade, que a possa salvar.
Também não tenho bens nem capitais,
Nem glórias ou honras mundanais.
Até um cão desta vida fugia!
Por isso me entreguei à magia,
Para ver se por força da mente
Tanto mistério se abre à minha frente;
Para que não tenha, com o fel que suei,
De dizer mais aquilo que não sei;
Para conhecer os segredos que o mundo
Sustentam no seu âmago mais fundo,
Para intuir forças vivas, sementes,
E largar as palavras indigentes.
Ah, viesses tu, doce luar,
Envolver minha última dor!
Tu, que por noites adentro
Esperei a esta banca, atento:
Sobre a livralhada babilônica
Vinhas, amiga melancólica!
Ah, pudesse eu por esses cumes
Andar sob teus brandos lumes,
Pairar em grutas com seres alados,
Ao teu crepúsculo errar pelos prados,
E, livre das névoas do saber,
Em teu orvalho renascer!
[...]
Johann Wolfgang von
Goethe
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