quarta-feira, 12 de março de 2014

«LINGUAJAR», POR MANEL CALADO

São Tiago Rio de Moinhos
Ali nas Abas da Serra D'Ossa


Passei na Pedra da Moura
Às abas do Castelão
Com cagunfo, vim-me embora
Sou um ganda valentão! 

Do Alfaval ao Convento
E do Roque ao Sozinho
Sou um bechinho de vento
Nascido em redemoinho. 

O governo até parece
Que saiu do cu de um burro
É tão besta que apetece
Tratá-lo a coice e murro 

Esperneguei-te os olhos
Tu fizeste orelha mouca
Parvoera, tens aos molhos
Mas esperteza, pouca. 

Se co teu cantar espantasses 
As paxões que me apequentam
Minha amiga, não te maces
Cantorias, as aumentam 

Só me aflege é não ter
Sete vidas como o gato
Para te poder dezer
Morre lá que eu já me mato 

Grande engano me pregaste
Tão sonsinha e espravoerada
Saíste-me um grande traste
Para mim não vales nada 

Nem um testão furado
Pra mandar cantar um cego.
Tive azar, é o meu fado
Enludi-me, na o nego 

Coisas do arco da velha
Tem a minha freguesia
Uns, porque lhes dá na telha
Outros têm a mania 

Muito enfluído eu andava
No olival, ao rabisco
Veio a guarda: Fora! Ó cava!
O azete na vale o risco.

Eu fui Guadiana acima
Co gado, de mal andar
Ó pé de mim nenguém arrima
Se na quiser apanhar…

Fui pirunêro em gaiato
Até me tornar móral
Pra fazer lume, ia ao mato
Com pão seco no bornal

Dormia numa tarimba
Comia da barranhoa
Um pelico, para a cacimba
Mordiscando uma gamboa

Bubia copos de três
Lá na tasca do Balheco
Jogava de quando em vez
Uma maluta, meio chemeco

Manel Calado

(Amanhã, se quiser cá voltar,
Haverá mais Linguajar!)
Poet'anarquista

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