«As Janelas Douradas»
Conto de William J. Bennett
159- «AS JANELAS DOURADAS»
O menino trabalhava arduamente durante todo o dia, no campo,
no estábulo e no armazém, pois os pais eram fazendeiros pobres e não podiam
pagar a um ajudante. Mas, quando o sol se punha, o pai deixava-lhe aquela hora
só para ele. O menino subia ao alto de um morro e ficava a olhar para um outro
morro, distante alguns quilómetros. Nesse morro, via uma casa com janelas de
ouro e de diamantes. As janelas brilhavam e reluziam tanto que ele era obrigado
a piscar os olhos. Mas, pouco depois, ao que parecia, as pessoas da casa
fechavam as janelas por fora, e então a casa ficava igual a qualquer outra
casa. O menino achava que faziam isso por ser hora de jantar; então voltava
para casa, jantava e ia deitar-se. Um dia, o pai do menino chamou-o e
disse-lhe:
— Tens sido um bom menino e ganhaste um dia livre. Tira esse dia para ti; mas
lembra-te: tenta usá-lo para aprenderes alguma coisa boa.
O menino agradeceu ao pai e beijou a mãe. Em seguida partiu, tomando a direcção
da casa das janelas douradas.
Foi uma caminhada agradável. Os pés descalços deixavam marcas na poeira branca
e, quando olhava para trás, parecia que as pegadas o seguiam, fazendo-lhe
companhia. A sombra também caminhava ao seu lado, dançando e correndo, tal como
ele. Era muito divertido.
Passado um longo tempo, chegou ao morro verde e alto. Quando subiu ao topo, lá
estava a casa. Mas parecia que haviam fechado as janelas, pois ele não viu nada
de dourado. Aproximou-se e sentiu vontade de chorar, porque as janelas eram de
vidro comum, iguais a qualquer outra, sem nada que fizesse lembrar o ouro.
Uma mulher chegou à porta e olhou carinhosamente para o menino, perguntando o
que ele queria.
— Eu vi as janelas de ouro lá do nosso morro — disse ele — e vim de propósito
para as ver de perto, mas elas são de vidro!
A mulher meneou a cabeça e riu-se.
— Nós somos fazendeiros pobres — disse — e não poderíamos ter janelas de ouro.
E o vidro é muito melhor para se ver através dele!
Convidou o menino a sentar-se no largo degrau de pedra e trouxe-lhe um copo de
leite e uma fatia de bolo, dizendo-lhe que descansasse. Chamou então a filha,
que era da idade do menino; dirigiu aos dois um aceno afectuoso de cabeça e
voltou aos seus afazeres.
A menina estava descalça como ele e usava um vestido de algodão castanho, mas
os cabelos eram dourados como as janelas que ele tinha visto e os olhos eram
azuis como o céu ao meio-dia. Passeou com ele pela fazenda e mostrou-lhe o seu
bezerro preto com uma estrela branca na testa; ele falou do bezerro que tinha
em casa, e que era castanho-avermelhado com as quatro patas brancas. Depois de
terem comido juntos uma maçã, e se terem tornado amigos, ele fez-lhe perguntas
sobre as janelas douradas. A menina confirmou, dizendo que sabia tudo sobre
elas, mas que ele se tinha enganado na casa.
— Vieste numa direcção completamente errada! — exclamou ela. — Vem comigo,
vou-te mostrar a casa de janelas douradas, para ficares a saber onde fica.
Foram para um outeiro que se erguia atrás da casa, e, no caminho, a menina
contou que as janelas de ouro só podiam ser vistas a uma certa hora, perto do
pôr-do-sol.
— Eu sei, é isso mesmo! — confirmou o menino.
No cimo do outeiro, a menina virou-se e apontou: lá longe, num morro distante,
havia uma casa com janelas de ouro e de diamantes, exactamente como ele tinha
visto. E quando olhou, o menino viu que era a sua própria casa!
Apressou-se então a dizer à menina que precisava de se ir embora. Deu-lhe a sua
melhor pedrinha, a branca com uma lista vermelha, que trazia há um ano no
bolso. Ela deu-lhe três castanhas-da-índia: uma vermelha acetinada, outra
pintada e outra branca como leite. Ele deu-lhe um beijo e prometeu voltar, mas
não contou o que descobrira. Desceu o morro, enquanto a menina ficava a vê-lo
afastar-se, na luz do sol poente.
O caminho de volta era longo e já estava escuro quando chegou a casa dos pais.
Mas o lampião e a lareira luziam através das janelas, tornando-as quase tão
brilhantes como as vira do outeiro. Quando abriu a porta, a mãe veio beijá-lo e
a irmãzinha correu a pendurar-se-lhe ao pescoço; sentado perto da lareira, o
pai levantou os olhos e sorriu.
— Tiveste um bom dia? — perguntou a mãe.
— Sim! — o menino passara um dia óptimo.
— E aprendeste alguma coisa? — perguntou o pai.
— Sim! — disse o menino. — Aprendi que a nossa casa tem janelas de ouro e de
diamantes.
William J. Bennett
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