«Como Escrever um Conto»
Lucky Luke/ Morris & Goscinny
472- «COMO ESCREVER UM CONTO»
Sempre tive dificuldade para terminar os contos de uma forma
que satisfizesse o público em geral. Na vida real, as pessoas não mudam, não
aprendem nada com seus erros e não pedem desculpas. Num conto, elas precisam
fazer pelo menos duas dessas três coisas, ou será melhor jogá-lo fora na lata
de lixo sem tampa presa com corrente e cadeado a um hidrante em frente à
Academia Americana de Letras e Artes.
Tudo bem, isso eu podia resolver. Mas depois de fazer um
personagem mudar, aprender alguma coisa e/ou pedir desculpas, isso deixava o
resto do elenco parado chupando o dedo. Isso não é jeito de dizer ao leitor que
o espectáculo terminou.
Quando eu era jovem e inexperiente, imaturo nas minhas
opiniões e, para começo de conversa, sem nunca ter pedido para nascer, pedi
conselho a meu agente literário daquela época sobre como terminar os contos sem
matar todos os personagens. Ele havia sido editor de ficção de uma revista
importante, além de consultor de roteiros para um estúdio de Hollywood.
«Nada mais simples, meu rapaz», disse ele.
«O herói monta no seu
cavalo e sai cavalgando em direcção ao pôr-do-sol.»
Muitos anos depois, ele se mataria deliberadamente com uma
espingarda calibre 12.
Kurt Vonnegut
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