«A Fantasia tem Olhos que tudo Vêem»
Conto de Robert Walser
476- «A FANTASIA TEM OLHOS QUE TUDO VÊEM»
“Era uma vez uma rapariga que crescia num quartinho. O
quartinho era simpático, a rapariga era bonita e engraçada, e disso mesmo se
convencia diante do espelho que tinha por hábito interrogar. A casa onde se
encontrava o quartinho que albergava a rapariga era apenas uma casinha. O juízo
da rapariga era apenas um juizinho; o seu coração, só um coraçãozinho; a sua
esperança, não mais que uma esperançazinha, e o seu pé, um pezinho apenas.
A rapariga era amada por um homem novo e bonito… A rapariga
nova e bonita, por sua vez, também o amava, um pretexto para que o autor da
presente historiazinha, conhecendo o enredo e o desenlace da mesma, se divirta
às suas custas.”
“Um rapaz e uma rapariga, gente jovem a valer dos nossos
tempos. Oskar e Emma de seu nome, amavam-se. Era profundo o seu amor, e ninguém
duvidava menos e acreditava com mais fervor neste facto do que eles próprios.
Até aqui tudo perfeito, só que havia qualquer coisa que lhes faltava, e vamos
já dizer o que era esta qualquer coisa estranha e fabulosa que lhes faltava.
Ninguém, para onde quer que olhassem, os impedia. Tinham licença, por assim
dizer, para se amarem, beijarem, beijocarem e explorarem, sempre que para tal
tivessem vontade. Mas era precisamente esse o problema: na ausência de entraves,
cada vez menos tinham vontade de se dedicar a esta edificante ocupação. Os dois
bons e excelentes jovens adoeciam por virtude de uma abundância de liberdade, e
os seus suspiros tinham por motivo a falta de obstáculos.”
“É uma tarefa cansativa, esta de contar histórias”.
Simplesmente irresistíveis!
Robert Walser
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