481- «A TAÇA DE CRISTAL»
[Excerto]
«As águas azuis tocam as paredes do palácio; ouço o seu
marulho suave e ondeante contra o mármore, quando me ponho à escuta. Ao longe,
no mar, vejo as ondas a brilhar à luz do sol, sempre sorridentes, sempre
brilhantes, sempre ensolaradas.
O mar! O mar estende-se na distância, tanto quanto a minha
vista alcança. Nele fixo o meu olhar, até os olhos começarem a turvar-se; e na
turvação dos meus olhos o meu espírito encontra a sua visão.
A minha alma voa nas asas da memória, para longe, para lá do
mar azul e risonho; para lá das ondas deslizantes e dos veleiros errantes, para
a terra a que chamo o meu lar.
À medida que os minutos passam, parece-me ter recuperado a
visão real, e olhando à minha volta vejo-me na casa onde nasci. A rude
simplicidade da minha habitação vem-me à lembrança como algo de novo. Ali, vejo
os meus velhos livros, manuscritos e desenhos, e além, dispostas em velhas
prateleiras, ao alto, as minhas primeiras tentativas toscas no campo da arte.
Como me parecem medíocres, agora!
E no entanto, se fosse livre, não trocaria a mais pequena
delas por tudo aquilo que agora possuo. Possuo? Como eu sonho!»
Bram Stoker
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