sábado, 30 de novembro de 2013

«ALMA DE CÔRNO», POR FERNANDO PESSOA

30 de Novembro de 1935, morre em Lisboa o grande poeta, filósofo e escritor português, Fernando Pessoa. No corrente ano de 2013, creio que em Maio, foram descobertos manuscritos do poeta até agora inéditos. O soneto «Alma de Côrno», que hoje se publica na efeméride, encontrava-se entre esses escritos desconhecidos. Ainda bem que lá estava, é de facto inédito o soneto métrico. Fernando Pessoa, um poeta genial!
Poet'anarquista
Fernando Pessoa
Poeta Português

ALMA DE CÔRNO

Alma de côrno – isto é, dura como isso;
Cara que nem servia para rabo;
Idéas e intenções taes que o diabo
As recusou a ter a seu serviço –

Ó lama feita vida! ó trampa em viço!
Se é p’ra ti todo o insulto cheira a gabo
– Ó do Hindustão da sordidez nababo!
Universal e essencial enguiço!

De ti se suja a imaginação
Ao querer descrever-te em verso. Tu
Fazes dôr de barriga á inspiração.

Quér faças bem ou mal, hyper-sabujo,
Tu fazes sempre mal. És como um cú,
Que ainda que esteja limpo é sempre sujo.

 Fernando Pessoa

Nota: reprodução do poema respeitando a grafia original do fac-símile.

2 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Vou levar, tudo inteiro!!!

Carlos Pittella Leite disse...

Caro "Camões", Pessoa era mesmo genial, capaz de chocar-nos tanto com o sublime quanto com o profano. Já viste o ensaio que escrevi sobre a controvérsia causada por este soneto de mal-dizer, após sua publicação? Agradeço se adicionar o link: https://www.academia.edu/5326942/_2013_Alma_de_Corno_e_Outros_Espiritos_Malditos_em_Pessoa._In_Revista_da_Biblioteca_Mario_de_Andrade ... Bom dia, Carlos