Episódio Terceiro – «Ilha do Príncipe»
«Ilha do Príncipe»
Anos Sessenta
27- «ILHA DO PRÍNCIPE»
Corriam os anos sessenta.
Carta apreendida pela polícia política portuguesa, expedida
da Ilha do Príncipe e dirigida a um natural do Arquipélago de S. Tomé e
Príncipe, que se encontrava a cumprir o serviço militar em Angola.
“Meu Amor, foi uma pena que os tugas não autorizassem a tua
vinda à ilha depois da instrução militar que recebeste em Portugal. Tal como
tu, também eu acho que estás a ser vigiado de muito perto. E como te
distinguiste nos cursos em que participaste, como deste nas vistas, tanto nos
exercícios físicos, como nas questões teóricas, levando em conta a cor da tua
pele, tornaste-te num alvo de desconfianças. Não que não me interesse o futuro
da nossa terra, interessa-me e muito, como tu sabes, mas nós não podemos
aspirar à independência sem que Angola a consiga também. Peço-te, se me amas
verdadeiramente, que não te deixes levar pelo entusiasmo e tenta passar
despercebido. Leva em conta o nosso amor. Haverá tempo para tudo. Para já, o
que mais me interessa, é que rapidamente consigas ver-te livre da tropa
portuguesa. Como sabes, os parentes que tenho no Brasil, apenas esperam isso
para nos mandar chamar..”
«Campo Prisional de São Nicolau»
Tarrafal Angolano
Esta carta era dirigida a um jovem oficial negro, natural da
Ilha do Príncipe, a cumprir serviço militar em Angola, no fim da década de
sessenta. Depois da carta ser apreendida pela PIDE, ambos foram presos. Mais
tarde ela foi libertada mas ficou impedida de sair da ilha. E ele permaneceu no
campo prisional de S. Nicolau até ao 25 de Abril de 74.
Orson W. Calabrese
Nota: Terceiro e último episódio africano
passado em ilha onde se falava a língua portuguesa.
passado em ilha onde se falava a língua portuguesa.
Poet'anarquista
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