«A Moura Cassima»
Ilustração de Maria Keil
17- «A MOURA CASSIMA»
Há muitos, muitos anos, no tempo dos mouros, os soldados de
D. Paio conquistaram o castelo de Loulé.
D. Paio não sabia que o governador tinha poderes mágicos...
«Conquista do Castelo de Loulé»
Ilustração de Maria Keil
Quando os soldados invadiram o castelo, o governador disse às suas
três lindas filhas:
- Filhas, vou ter de fugir para Tânger porque os cristãos venceram!
Infelizmente, não podem vir comigo. Mas, um dia, eu prometo que volto!
Então, o governador levou as suas três filhas a um campo onde havia uma
fonte e, nesse momento, começou a cantar uma melodia muito
triste!
De repente, as três filhas desapareceram.
Entretanto, o governador, nessa noite, conseguiu arranjar um barco (lá
para os lados da Quarteira) que o levou até à costa africana.
«Governador a caminho da Costa Africana»
Ilustração de Maria Keil
Os mouros que ficaram no Algarve a combater os cristãos
acabaram por fugir para Tânger, levando alguns cristãos presos para serem
vendidos na praça pública.
Passado algum tempo, o antigo governador ia a passear e viu o carpinteiro
de Loulé na praça pública de Tânger.
«O Carpinteiro»
Ilustração de Maria Keil
Aproximou-se do carpinteiro e os dois começaram a conversar.
A certa altura o carpinteiro disse:
-Quando saí de Loulé falava-se muito das três mouras
encantadas! As filhas do governador.
Com esta resposta, o governador tomou uma decisão e pediu ao
carpinteiro para ir salvar as filhas a Loulé. Prometeu-lhe que seria
recompensado com muitas jóias e riquezas. O carpinteiro disse que sim e jurou
cumprir as ordens do governador.
Então, o governador disse:
- Cada um dos pães tem um sinal diferente que representa o nome das
minhas três filhas. À meia noite, com a Lua Cheia, vais à fonte e lanças
um pão de cada vez, chamando por: Zara, Lídia e Cassima.
- Mas o Algarve é muito longe. Como é que eu chego lá? - perguntou o
carpinteiro.
Mais uma vez o mouro usou a sua magia...
- Vês aquele alguidar cheio de água? Põe-te ao lado do alguidar e dá um salto
para trás.
O carpinteiro pôs-se ao lado do alguidar.
- Presta atenção: tens de saltar por cima e sem cair!
-E se cair?
-Morrerás afogado no mar!
«Chegada do Carpinteiro a Loulé»
Ilustração Maria Keil
O carpinteiro conseguiu saltar e chegou a Loulé.
Os dias e os meses iam passando e o carpinteiro visitava a fonte todos os
domingos. Olhava e chamava pelas belas mouras encantadas. Chegava a casa e ia
sempre à arca. Não acontecia nada!
Até que um dia a mulher, que estava muito curiosa,
resolveu perguntar ao marido o que se passava. O carpinteiro disse-lhe:
-Não vás àquela arca!
Mas a mulher era curiosa. Quando o carpinteiro estava na
fonte, a mulher abriu a arca e viu os pães. Com uma faca cortou um deles. Nesse
mesmo momento o marido ouviu um grito tremendo vindo do fundo da fonte. Ficou
sem compreender o que é que tinha acontecido.
«As Mouras Zara, Lídia e Cassima»
Ilustração de Maria Keil
No dia seguinte, à meia-noite, o carpinteiro atirou o primeiro pão e chamou
«Zara». Depois, o segundo, e chamou «Lídia» e finalmente o terceiro e
disse: «Cassima»! Nesse instante ouviu o mesmo grito! Cassima então
disse:
- A culpa é da tua mulher. Cortou-me a perna com uma faca. Nunca mais vou sair
daqui.
O governador ficou muito triste mas tinha feito uma promessa
ao carpinteiro. Por isso recompensou-o com muitas jóias. Ainda hoje, a moura
encantada, chamada Cassima, se encontra naquela fonte.
Conto Tradicional Português
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