sexta-feira, 14 de março de 2014

«LINGUAJAR», POR MANEL CALADO

São Tiago Rio de Moinhos
Ali nas Abas da Serra D'Ossa

Poet'anarquista

Ai a minha freguesia
Com o arrabalde no meio
Queimada pela margia
Como a palha do centeio

A olivera da Xica
Que na me sai da molera
Acabou xica marica
Mas que Cambra bacorera

Tanto quejo, freguesia
Embarrascando a rebêra
Dantes a água corria 
E agora é só estriquêra

Chamava-te um cabaçal
Minha tronga, tenho dito.
Olha que eu sou libaral:
Calhavas no cu do xito

Chiguei esfogontiado
Mandei chamar o gigiu
Estava todo esburtiado
Onde é que é que isto se viu?

Tinha-se ido agachar
No quental do ti Marrafa
Deixou, só para emondongar
Um ninho da agafa agafa

Eu nem sou enfecinoso
Nem empentelhado demais
Mas estrapaciar dá-me gozo:
Esses são os meus sinais

Fui nascer na Estação
Quando a inverna apertou
Hoje não tenho paixão
Água o deu, água o levou

Com um guicha no esquero
Para fazer uma rexina,
Tinha resgo, mas primero
Vinha a retolca, menina.

Mas sou munta sarrazina
Pa na d’zer aborrecido
C’má asseada Celestina
Na sirvo para marido

Sou taméim apezunhado
Às vezes meio alvarento
Ando pouco conchigado
E dizem que sou escarpento.

Tu na sejas menino quim
Que eu na sou bento do ei
Foi sina sermos assim
Atéga que eu atéguei

Fui um dia dar à calça
Arranhei-me num codeço
Caramba, se fosse salsa
Na me saía este verso…
(na rima, mas é verdade)

Outra vez foram ortigas
Que me pregaram a peça
Pensando nas raparigas
Cudilhei-me bem depressa

Manel Calado

(Amanhã isto vai acabar,
Mas ainda haverá Linguajar!)
Poet'anarquista

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