A poetisa e escritora santomense Alda Neves da Graça do
Espírito Santo, conhecida como Alda Espírito Santo, nasceu em São Tomé
e Príncipe, a 30 de Abril de 1926. Quando São Tomé e Príncipe conseguiu
a independência de Portugal em 1975, ela ocupou vários cargos no governo.
Foi Ministra da Educação e Cultura, Ministra da Informação e Cultura,
Presidente da Assembleia Nacional e Secretária-Geral da União Nacional de
Escritores e Artistas de São Tomé e Príncipe. É também autora da letra do hino
nacional, Independência Total. São seus os livros de poemas «O Jogral das
Ilhas», de 1976, e «É nosso o solo sagrado da terra», de 1978. Alda Espírito
Santo faleceu na sua terra natal, a 9 de Março de 2010.
Poet'anarquista
Alda Espírito Santo
Poetisa e Escritora São-Tomense
SOBRE A AUTORA...
Em 30 de Abril de 1926 nasce, na cidade de São Tomé,
capital do Arquipélago de São Tomé e Príncipe, Alda Neves da Graça do Espírito
Santo. Filha de uma professora primária e de um funcionário dos Correios, ainda
nova faz seus primeiros estudos em São Tomé.
Em meados de 1940,
muda-se com a família para o norte de Portugal, anos depois a família muda-se
para Lisboa onde Alda inicia os seus estudos universitários.
No
início da década de 50, morando em Lisboa com a família, Alda Espírito Santo faz
contacto com alguns dos importantes escritores e intelectuais que viriam a ser
os futuros dirigentes dos movimentos de independência das colónias portuguesas
de África, como Amílcar Cabral, Mário Pinto de Andrade, Agostinho Neto,
Francisco José Tenreiro, entre outros. A casa de sua família, no número 37 da
Rua Actor Vale, funciona como local de encontros do CEA (Centro de Estudos
Africanos). Os encontros regulares na casa de Alda promoviam palestras sobre
temas diversos como Linguística, História e também sobre a consciência cultural
e política acerca do colonialismo, do assimilacionismo e da defesa do
colonizado. Na mesma época, Alda Espírito Santo frequenta a CEI (Casa dos
Estudantes do Império). Algum tempo depois, abandona o curso universitário por
razões políticas e também financeiras.
Em Janeiro de 1953, regressa a
São Tomé e Príncipe, onde actua como professora e jornalista. Nesse mesmo ano,
escreve o poema «Trindade» que denuncia o massacre ocorrido em 5 de Fevereiro
em Trindade (São Tomé e Príncipe).
Em 1975, após a independência de São
Tomé e Príncipe, ocorrida em 12 de junho, Alda Espírito Santo ocupa vários
cargos sucessivos no governo da jovem nação, entre os quais os de Ministra da
Educação e Cultura, Ministra da Informação e Cultura, Presidente da Assembleia
Nacional e Secretária Geral da União Nacional de Escritores e Artistas de São
Tomé e Príncipe. Nesse ano, em Novembro, compõe a letra do Hino Nacional de São
Tomé e Príncipe, intitulado «Independência Total».
Em 1976, publica um
livro de poemas intitulado «O jogral das Ilhas» e, em 1978, publica o
livro de poemas «É nosso o solo sagrado da terra», que reúne uma colectânea
dos poemas produzidos por Alda entre os anos de 1950- 1970.
Em 9 de Marçode 2010, em Luanda (Angola), falece a poetisa Alda Espírito Santo por complicações de saúde.
O governo santomense decreta luto oficial de 5 dias.
Fonte: Vidas Lusófonas
ANGOLARES
Canoa frágil, à beira da praia,
panos preso na cintura,
uma vela a flutuar…
Caleima, mar em fora
canoa flutuando por sobre as procelas das águas,
lá vai o barquinho da fome.
Rostos duros de angolares
na luta com o gandu
por sobre a procela das ondas
remando, remando
no mar dos tubarões
p’la fome de cada dia.
panos preso na cintura,
uma vela a flutuar…
Caleima, mar em fora
canoa flutuando por sobre as procelas das águas,
lá vai o barquinho da fome.
Rostos duros de angolares
na luta com o gandu
por sobre a procela das ondas
remando, remando
no mar dos tubarões
p’la fome de cada dia.
Lá longe, na praia,
na orla dos coqueiros
quissandas 4 em fila,
abrigando cubatas,
izaquente 5 cozido
em panela de barro.
na orla dos coqueiros
quissandas 4 em fila,
abrigando cubatas,
izaquente 5 cozido
em panela de barro.
Hoje, amanhã e todos os dias
espreita a canoa andante por sobre a procela das águas.
A canoa é vida
a praia é extensa
areal, areal sem fim.
Nas canoas amarradas
aos coqueiros da praia.
O mar é vida.
P’ra além as terras do cacau
nada dizem ao angolar
“Terras tem seu dono”.
espreita a canoa andante por sobre a procela das águas.
A canoa é vida
a praia é extensa
areal, areal sem fim.
Nas canoas amarradas
aos coqueiros da praia.
O mar é vida.
P’ra além as terras do cacau
nada dizem ao angolar
“Terras tem seu dono”.
E o angolar na faina do mar,
tem a orla da praia
as cubatas de quissandas 4
as gibas pestilentas
mas não tem terras.
tem a orla da praia
as cubatas de quissandas 4
as gibas pestilentas
mas não tem terras.
P’ra ele, a luta das ondas,
a luta com o gandu,
as canoas balouçando no mar
e a orla imensa da praia.
(É nosso o solo sagrado da terra)
a luta com o gandu,
as canoas balouçando no mar
e a orla imensa da praia.
(É nosso o solo sagrado da terra)
Alda Espírito Santo
LÁ NO “ÁGUA GRANDE”
Lá no “Água Grande” a caminho da roça
negritas batem que batem co’a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.
negritas batem que batem co’a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.
Cantam e riem em riso de mofa
histórias contadas, arrastadas pelo vento.
histórias contadas, arrastadas pelo vento.
Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.
e põem de branco a roupa lavada.
As crianças brincam e a água canta.
Brincam na água felizes…
Velam no capim um negrito pequenino.
Brincam na água felizes…
Velam no capim um negrito pequenino.
E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam mudos lá na hora do regresso…
Jazem quedos no regresso para a roça.
ficam mudos lá na hora do regresso…
Jazem quedos no regresso para a roça.
Alda Espírito Santo
ILHA NUA
Coqueiros e palmares da Terra Natal
Mar azul das ilhas perdidas na conjuntura dos séculos
Vegetação densa no horizonte imenso dos nossos sonhos.
Verdura, oceano, calor tropical
Gritando a sede imensa do salgado mar
No deserto paradoxal das praias humanas
Sedentas de espaço e devida
Nos cantos amargos do ossobô
Anunciando o cair das chuvas
Varrendo de rijo a terra calcinada
Saturada do calor ardente
Mas faminta da irradiação humana
Ilhas paradoxais do Sul do Sará
Os desertos humanos clamam
Na floresta virgem
Dos teus destinos sem planuras…
Mar azul das ilhas perdidas na conjuntura dos séculos
Vegetação densa no horizonte imenso dos nossos sonhos.
Verdura, oceano, calor tropical
Gritando a sede imensa do salgado mar
No deserto paradoxal das praias humanas
Sedentas de espaço e devida
Nos cantos amargos do ossobô
Anunciando o cair das chuvas
Varrendo de rijo a terra calcinada
Saturada do calor ardente
Mas faminta da irradiação humana
Ilhas paradoxais do Sul do Sará
Os desertos humanos clamam
Na floresta virgem
Dos teus destinos sem planuras…
Alda Espírito Santo
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