domingo, 7 de setembro de 2014

OUTROS CONTOS

«Estátua», conto poético por Camilo Pessanha.

«Estátua»
Escultura de Francisco Simões
(Parque dos Poetas, Oeiras)

260- «ESTÁTUA»

Fez-nos bem, muito bem, esta demora: 
Enrijou a coragem fatigada... 
Eis os nossos bordões da caminhada, 
Vai já rompendo o sol: vamos embora. 

Este vinho, mais virgem do que a aurora, 
Tão virgem não o temos na jornada... 
Enchamos as cabaças: pela estrada, 
Daqui inda este néctar avigora!... 

Cada um por seu lado!... Eu vou sozinho, 
Eu quero arrostar só todo o caminho, 
Eu posso resistir à grande calma!... 

Deixai-me chorar mais e beber mais, 
Perseguir doidamente os meus ideais, 
E ter fé e sonhar - encher a alma.

Camilo Pessanha

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