Pela mão do poeta José António Pais, publicam-se hoje as vigésimas décimas populares da rubrica «Poetas do Concelho d'Alandroal». Este poeta popular nasceu em Hortinhas, freguesia de São Pedro de Terena do concelho de Alandroal, a 5 de Outubro de 1928. Profissionalmente foi trabalhador rural e começou a escrever poesia aos 20 anos.
Poet'anarquistaJosé António Pais
Poeta Popular
MOTE
Um dos meus avós bebia
Mais que o outro meu avô
O meu pai até se lambia
Vejam bem como é que eu sou.
Glosas
1ª
Meu avô cambaleando
Dizia p'rá minha avó:
Julgas que bebes tu só
Também lhe vou arrumando.
Eu bebo de vez em quando
Como noutro tempo fazia
Sempre comigo trazia
Duas garrafas ou três,
Cinco litros de uma vez
Um dos meus avós bebia.
2ª
De aguardente bebi um almude*
De vinho bebi um tonel
Enquanto me coube na pele
Eu bebi até que pude.
Fui sempre homem de saúde
O mal nunca me chegou
Nem para cá se aproximou
Só por eu assim fazer,
Ninguém consegue beber
Mais que o outro meu avô.
3ª
Quando ia para o almoço
Logo aparecia o bicado**
E já à mesa sentado
Outro me mandava buscar.
Nunca se deixava acabar
Vinho sempre ali havia
Pois quem os copos enchia
Tinha o vinho sempre à mão,
Que em vendo o garrafão
O meu pai até se lambia.
4ª
Eu sou filho de uma vinha
Numa adega fui criado
Com muitas talhas ao lado
E pipos também lá tinha.
É tudo família minha
Essa gente que me criou
Até me sinto contente,
Se eu pertenço a essa gente
Vejam bem como é que eu sou.
José António Pais
* Medida de capacidade de origem árabe equivalente a cerca de vinte e cinco litros.
** Jarro de barro ou de vidro para o vinho.
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