«A Luva»
Mulher com Luva Verde
(Tamara Lempicka)
323- «A LUVA»
Ia-se travar um mui sangrento
Combate entre medonhas feras,
(Oh! bárbaros costumes d’outras eras
Em que existia tal divertimento.)
E como já era el-rei sentado
Altivo, soberbo, majestoso,
Pelos fidalgos rodeado
E formando um círculo gracioso.
Eram as damas num balcão
Alegres... sorridentes... lindas... belas...
Abrem-se as jaulas e sai delas
Primeiramente aos saltos um leão.
Depois em carreira mais veloz
Do Rei das Selvas ao encontro vem
Um tigre rugindo, mui feroz,
Que de Satanás os olhos tem.
Tudo se torna então silencioso
Olhando as feras mudo... ansioso!
Mas não se lançam!... Deitam-se no chão
Uma ao pé da outra!... Do balcão,
Precisamente ao meio entre elas,
Uma luva cai da linda mão
Da mais linda de todas as donzelas.
E ao seu cavaleiro diz assim
A dona da luva: “ – Se o amor
Que asseguras nutrir por mim
É tão ardente quanto me jurais,
Se diante do perigo vós não existais
A luva ide apanhar-me já, senhor!”
Rápido como um raio e sem pestanejar
Ao terrível recinto desce o cavaleiro!...
Com terror... com espanto verdadeiro
Vêem-no todos avançar!...
Ressoa então um grito de louvor!...
Desse grito é ele só o alvo!...
Com um mui terno olhar d’amor
Recebe a donzela o vencedor;
Mas embora nesse olhar ofereça
Ao cavaleiro a felicidade querida,
Ele ao rosto a luva lhe arremessa
Voltando-lhe as costas em seguida!
Friedrich Schiller
(Tradução - Mario de Sá-Carneiro)
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