322- «O CACHORRO»
Nós dois no quarto: meu cachorro e eu. Lá fora, a tempestade
uiva, desenfreada, assustadora.
O cachorro está sentado à minha frente, e olha-me directo nos
olhos.
Eu também olho para os olhos dele. Parece que me quer dizer alguma coisa.
É mudo, sem fala, nem se entende a si mesmo...
mas eu o entendo.
Eu também olho para os olhos dele. Parece que me quer dizer alguma coisa.
É mudo, sem fala, nem se entende a si mesmo...
mas eu o entendo.
Entendo que neste instante, nele e em mim, vive o mesmo
sentimento e entre nós não existe a menor diferença. Somos idênticos; em cada
um, arde e brilha a mesma chama, pequena e trémula.
A morte virá voando, vai abanar sobre essa chama as suas asas frias e largas...
A morte virá voando, vai abanar sobre essa chama as suas asas frias e largas...
E fim! Depois, quem poderá distinguir que chama ardeu em
cada um de nós? Não!
Não são um animal e um homem que se olham...
São dois pares de olhos idênticos, concentrados um no outro.
E em cada par de olhos, no animal e no homem, a mesma vida assustada tenta se
agarrar no outro.
Ivan Turgueniev
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