A 7 de Novembro de 1913, nasce o escritor francês Albert Camus autor de «O Estrangeiro», e Prémio Nobel de Literatura em 1957.
Poet'anarquista
«O Estrangeiro»
Albert Camus
320- «O ESTRANGEIRO»
(Excerto)
(...)Maria veio buscar-me à noite e perguntou-me se eu
queria casar com ela. Respondi que tanto me fazia, mas se de facto ela queria
casar, estava bem. Quis então saber se eu a amava. Respondi, como aliás
respondera já uma vez, que isso nada queria dizer, mas que talvez a não
amasse."Nesse caso, porquê casar comigo?", disse ela. Respondi que
isso não tinha importância e que, se ela quisesse, nos podíamos casar. Era ela,
aliás, quem o perguntava, e eu contentava-me em dizer que sim. Maria observou
então que o casamento era uma coisa muito séria. Respondi:"Não".
Maria calou-se durante uns instantes e olhou-me em silêncio. Depois, falou.
Queria simplesmente saber se, vinda de outra mulher com a qual estivesse
relacionado do mesmo modo, eu teria aceitado uma proposta semelhante. Respondi:
"Possivelmente". Perguntou então de si para si se gostaria de mim,
mas sobre esse ponto, como poderia eu saber alguma coisa? Depois de mais uns
instantes de silêncio, murmurou que era uma pessoa estranha, que gostava de mim
decerto por isso mesmo, mas que um dia, pelos mesmos motivos, era capaz de
passar aos sentimentos contrários. Como eu me calasse, por não ter nada a
acrescentar, tomou-me o braço a sorrir e declarou que queria casar comigo.
Respondi que sim, logo que ela quisesse. Falei-lhe então na proposta do patrão
e Maria disse-me que gostaria de conhecer Paris. Contei-lhe que lá vivera
durante algum tempo e ela perguntou-me como era a cidade.
Respondi: "É suja. Há pombas e pátios escuros. As pessoas têm a pele muito branca".
Depois passeámos, escolhendo as grandes ruas.
As mulheres eram bonitas e perguntei a Maria se ela achava o
mesmo. Disse que sim, e que me compreendia. Depois calámo-nos. Queria no
entanto que ela ficasse comigo e disse-lhe que poderíamos jantar juntos no
Celeste. Maria replicou que gostava muito, mas que tinha que fazer. Estávamos
ao pé de minha casa e eu disse-lhe adeus. Ela olhou para mim: "Não queres
saber o que é que tenho que fazer?" Eu queria, mas não me lembrara de lho
perguntar e era por isso que estava com um ar de censura. Diante do meu ar
embaraçado, voltou então a rir e, para me estender a boca, teve para mim um
movimento de todo o corpo.(...)
Albert Camus
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